sábado, julho 31, 2010

FORMAS SUPERIORES DE PENSAMENTO


"Mas a verdade é que numa época tão intelectual , tão crítica, tão científica como a nossa, não se ganha a admiração universal, ou se seja nação ou individuo, só com ter propósito nas ruas e pagar lealmente ao padeiro. São qualidades excelentes, mas insuficientes. Requer-se mais: requer-se a forte cultura, a fecunda elevação de espírito, a fina educação do gosto, a base científica, a altura de ideal, que na França, na Inglaterra, ou na Alemanha, inspiram na ordem intelectual a triunfante marcha para a frente, e nas nações de faculdades menos criadoras, na pequena Holanda ou na pequena Suécia, produzem esse conjunto eminente de sábias instituições, que são, na ordem social, a realização de formas superiores de pensamento.”

Eça de Queiroz (“Por obséquio retire-se do meu personagem.” Cartas polémicas)

Com sentido de oportunidade o jornal “I” publica semanalmente pequenos livros ligados à grande literatura clássica portuguesa. Primeiro Fernando Pessoa e agora alguns dos escritos de Eça de Queiroz. Esperemos que a iniciativa levado a cabo por aquele jornal se mantenha.

Vale sempre a pena ler ou reler formas superiores de pensamento. Já naquele tempo, cansado dos “patrioteiros”, da miséria nacional e do que muito era “impresso em alguns bocados de papel”, Eça de Queiroz enfrentava semelhantes desilusões tal como nós nestes tempos de desânimo e de revolta moral perante as perspectivas de futuro, mais gravemente ainda nos dias que correm já que nem sequer em relação a outros países da Europa vislumbramos alguma esperança de progresso. A brutalidade e as injustiças foram-se também globalizando, restam poucos princípios. Em Portugal resta sempre muito menos, menos cultura, menos elevação de espírito, menos educação do gosto, menos base científica, menos altura de ideal, menos faculdades criadoras e menos sábias instituições para a realização de formas superiores de pensamento. Em Portugal há sempre mais, mais atraso e mais atrasados, infelicidade nossa.

segunda-feira, julho 26, 2010

O CRIME COMPENSA


O jornalismo do crime em termos gerais tem tendência em resvalar para o sensacionalismo e para a exploração das emoções. Os órgãos de comunicação social investem o que for necessário naquela ânsia de tirar o máximo proveito dos diversos casos arrastando-os ad nauseam. Sabem de antemão que as pessoas sempre se sentiram atraídas por histórias ligadas ao crime, a literatura do género confirma-o e as audiências também. O crime compensa-os mas, a maioria das vezes o comportamento dos media, enoja-nos.


Periodicamente Portugal também vive as suas histórias do crime. O caso do triplo homicida de Torres Vedras é o mais recente. O povo assiste atento pela televisão e compra interessadamente o jornal indicado e “especialista” na matéria. Acompanha todos os pormenores e disserta sobre o caso em qualquer lugar. A televisão fomenta a curiosidade, na maioria das vezes sem qualquer tipo de escrúpulos. Aluga helicópteros para sobrevoar e mostrar em directo a casa do presumível assassino, quer vê-la por dentro, comporta-se como a generalidade das pessoas, adora também a bisbilhotice e faz por alimentá-la.

Não se consegue perceber porque centenas de pessoas se juntam à porta de um tribunal para assistir à entrada rápida do réu algemado mas, muito menos se percebe porque os jornalistas pedem a opinião desta gente que adora dar o seu palpite. A televisão popular não informa, junta-se à justiça popular. A maioria dos jornalistas nestes casos nunca se questiona a si própria. Jamais lhe passa pela cabeça em saber que deontologia exigiria caso qualquer um dos envolvidos, assassino ou vítima, fosse seu familiar.

domingo, julho 25, 2010

O DIABO QUE OS CARREGUE


Da direita à esquerda a generalidade dos políticos portugueses reagiu mal à proposta feita esta semana pelo Bispo Auxiliar de Lisboa D. Carlos Azevedo no sentido dos políticos católicos contribuírem com uma percentagem dos seus vencimentos para ajudar no combate à pobreza. A grande questão é que os políticos limitaram-se apenas a comentar o pedido monetário feito pelo Bispo.

D. Carlos Azevedo deu uma entrevista longa denunciando as situações de pobreza e as suas causas. A propósito da polémica e dos ataques cínicos desferidos às opiniões expressas por D. Carlos Azevedo como os de Vitalino Canas e do sinistro ministro da economia Vieira da Silva, D. Januário Torgal Ferreira em defesa do seu Bispo Auxiliar achou por bem esclarecê-los no sentido de lhes explicar que D. Carlos Azevedo não lhes pediu apenas uma esmola, que o mais importante que lhes havia sido dito era que, “o desemprego tem causas, a desregulação bancária tem causas e os salários escandalosamente altos têm causas e que é necessário repensar tudo isto”. Os políticos reagiram apenas ao que lhes convinha, quanto ao resto, à realidade e à responsabilidade que lhes advém das suas condutas e das suas decisões fizeram de conta que não entenderam. Ficamos nós a perceber que com a actual nossa classe política estamos entregues ao Diabo e ao Inferno.

sábado, julho 24, 2010

TENHO SONO


A maioria dos portugueses vai começar a andar ensonada. Quando chega o final do mês e a altura de receber o ordenado, perante as contas que há para pagar e as deduções em relação aos impostos, apetece-nos voltar para a cama e adormecer até ao final do mês seguinte, depois, voltar a fazer o mesmo. Eis uma solução indicada à poupança que nos é exigida e enquanto os governos não inventam um qualquer imposto relativo ao sono.

domingo, julho 18, 2010

INSUSTENTÁVEL


Cavaco Silva às vezes mesmo que raramente não se limita a banalidades e até consegue dizer uma ou outra coisa mais acertada. Temos que concordar que o Presidente da República quando recentemente afirmou que o país estava insustentável não andou muito longe da verdade apesar de ele próprio ser também um dos maiores responsáveis pelo caos ao que o país chegou com as politicas que adoptou quando exerceu por muito tempo o lugar de primeiro-ministro. Investiu e reformou erradamente tal como aconteceu com os que lhe seguiram. O resultado das políticas neo-liberais que se iniciaram na era de Ronald Reagan e Margaret Tatcher alargadas ao mundo ocidental deram no que agora vamos vivendo e parece que a coisa não vai ficar por aqui, o que aí vem pode ser bastante negro. O mundo e sobretudo a Europa vão ter que mudar mas, por tudo aquilo a que vamos assistindo ainda no meio de uma paz podre, não se nos augura nada de bom sobretudo no nosso país, com poucos recursos, sem políticos capazes, com elevada taxa de empresários mal preparados e com uma classe trabalhadora sem formação adequada e pessimamente mal gerida e orientada, com uma educação bastante deficiente, um povo mal informado mas alienado e debaixo de um sistema de justiça deveras caótico. Diante este cenário e ao contrário de outros países mais bem preparados para cada um deles fazer por si perante a crise que se instalou, Portugal é certamente um dos que mais dificuldades enfrentará. Falar-se de uma redução de salários num país como o nosso não é comparável em termos de efeitos em relação aos países onde os ordenados são substancialmente mais elevados daí que de um momento para o outro a maioria da nossa população, confrontado com as medidas de austeridade que nos pretendem impor, poderá estar à beira da pobreza e miséria efectivas. A solução para evitar no futuro o agravamento das condições de vida dos portugueses e de subsistência do país existe, ela é radical e de difícil argumentação para que venha a ser aceite pelos cidadãos daí que nenhuma formação política da esquerda à direita tenha a coragem suficiente para a transmitir e lutar por ela. O sistema actual terá primeiro que estourar de uma vez por todas para depois então encontrarmos novos caminhos. É o que vai acontecer mais ou menos dia. Por agora a nossa classe política está na enfermaria tentando com curativos ligeiros tratar o cancro implacável. Olhamos o nosso dia-a-dia, na maioria das empresas onde trabalhamos deparamo-nos assiduamente com decisões de má gestão com carácter exclusivamente economicistas e incompetente, com a proliferação do amadorismo, elevados índices de desmotivação profissional, com ausência de condições de trabalho e entre uma resignação generalizada. Olhamos para a classe política e a desolação é ainda maior, o partido do governo perante as circunstâncias até gostaria talvez de nesta altura não ser governo, fá-lo de cabeça perdida e no meio de grandes trapalhices mas no entanto por vaidade e pelos benefícios que sempre resultam daí ambiciona continuar a ser poder. O maior partido da oposição que tem uma agenda política ainda mais danosa e anti-social para Portugal por agora não tem as condições para assumir responsabilidades de um país endividado à beira da falência e obrigado a pagar e prestar contas aos credores que agora aparecem vestidos de fraque. As restantes formações políticas não conseguem convencer as maiorias porque apesar de serem críticos do actual sistema insistem em estar dentro dele não querendo comportarem-se como um elefante dentro de uma loja de porcelanas. Limitam-se a ser pouco mais que sindicalistas no interior do Parlamento.

Ninguém quer ir a eleições, criam-se os argumentos convenientes, ou porque as últimas foram recentes ou porque são caras ou porque as presidências deste ano não o permitem. Todos vivem assustados, os políticos porque têm medo dos votos e nós próprios porque receamos pelos políticos que temos. Isto está insustentável.

Powered by Blogger

  • A MEMÓRIA QUE NÃO SE APAGA