domingo, janeiro 23, 2011

A DEMOCRACIA

Interessante, a maioria da blogosfera política criticou ao mesmo tempo que desprezou a importância destas eleições presidenciais e dos seus candidatos. Consultando-a, constata-se afinal que não se escreveu nem se falou de outra coisa. Fazem lembrar a maioria dos cidadãos que nas suas discussões do dia-a-dia insultam e maltratam os políticos mas que na hora da eleição, temendo as consequências da sua não participação nas suas vidas pessoais, lá vão eles aflitos colocar a cruz no seu candidato ou partido. Pois, se não for importante a acção e a discussão política dos actos eleitorais, o que será mais importante então para a democracia? Só a sua discussão com vista ao seu aperfeiçoamento. Aprende-se sempre com a democracia e, com estas eleições presidenciais e a sua campanha, sempre se aprendeu e descobriu algo mais que andava por aí escondido.

domingo, janeiro 16, 2011

O POVO E A POLÍTICA

Uma média entre 600 e 800 mil espectadores assistiram aos debates e às entrevistas de Judite de Sousa aos candidatos presidenciais. Mais de um milhão e duzentos mil assistiram à conversa entre a mesma jornalista e o psiquiatra Carlos Amaral Dias a propósito do assassinato de Carlos Castro em Nova York. Independentemente do nível da campanha eleitoral e, até mesmo dos candidatos à presidência da República, estes números demonstram o interesse menor que os portugueses prestam à política. As consequências são depois mais preocupantes, a comunicação social baixa os seus níveis de informação e vai atrás do interesse demonstrado pelo público e dos números das suas audiências sem se preocupar minimamente com as causas nefastas pelo seu comportamento em termos de formação e desenvolvimento de sociedade. “O público quer, nós transmitimos”, apregoam o lema com a justificação descarada de assim cumprirem com a prestação de um serviço público. Nem sequer vale a pena debater o problema a propósito do assunto tais as discussões e análises que já foram feitas ao longo de tantos anos por toda a gama de especialistas nesta matéria. O caso pode até nunca ter solução, pelo menos enquanto a comunicação social e, em especial o jornalismo, forem encarados como um outro qualquer negócio e a ele tenham acesso para os dominar gente sem outro tipo de preocupação que não a facturação ou simplesmente a manipulação. Entretanto…o povo embrutece ou adormece.

Não é por acaso que merecemos os políticos que temos, que nos enganam, que nos exploram e até que nos roubam. Eles lá estão porque o povo não se interessa pela política, não lhe presta a atenção merecida, não medita sobre ela, a despreza e acha que ela só diz respeito aos políticos, doutores, jornalistas e sindicalistas. O povo não se quer esforçar e também não quer estudar e nem pensar o porquê da política e dos políticos serem estes que pouco nos servem ou nos prejudicam. Mas queixa-se e até sabe que, quem não estuda não aprende. No entanto fica sentado à frente da televisão à espera que lhe resolvam o problema sem que ele próprio faça o mínimo para mudar o que quer que seja. Não se interessa pela política e por isso a política lhe há-de dar o tratamento adequado com o mesmo desprezo com que ele despreza a política.


segunda-feira, janeiro 10, 2011

A SELVAJARIA

À margem da campanha eleitoral para as presidenciais, dos juros da dívida portuguesa e do eventual pedido de ajuda ao FMI, das vitórias do Sporting, FCPorto e Benfica no campeonato, da eleição do melhor treinador do mundo e dos golos de Cristiano Ronaldo em Espanha, a comunicação social e o público em geral foram confrontados durante o fim-de-semana com a notícia de um crime ocorrido em Nova York e de uma relação entre um jovem e uma figura pública da sociedade portuguesa. A generalidade do público impressionou-se com a história. Os crimes impressionam tanto quanto mais perto estamos deles ou pela forma como nos são relatados. Este é o caso de mais um crime que não foge à regra. Ele não impressionou nenhum cidadão chinês ou sudanês a residir nos seus países tão só, porque não tiveram conhecimento dele nem tão pouco por terem um qualquer tipo de ligação às personagens envolvidas na história. Vivem as situações de outros crimes semelhantes a este ou não que ocorrem entre pessoas que mais ou menos se conhece.

O impacto deste assassinato que cada um o encara naturalmente à sua maneira, como acontece com quase a totalidade dos crimes, causa em cada uma das pessoas que o acompanha diversos tipos de leitura e até de conclusões mais ou menos plausíveis, sensatas ou não. O verdadeiramente impressionante, mais que o próprio crime ocorrido como o deste fim-de-semana entre dois portugueses em Nova York, é acompanhar nos diversos sites dos jornais nacionais os comentários publicados pelos cidadãos. As deficiências mentais, culturais e educacionais dos seus autores são assustadoras. Perante a amostra divulgada percebemos as razões do nosso atraso civilizacional. No nosso dia-a-dia lidamos com esta gente por perto, nos empregos, nas estradas, etc. Vivem da mesma forma e com o mesmo sentido de cidadania nas sociedades actuais como poderiam viver numa qualquer caverna há milhares de anos. Simplesmente selvagens e esse, é o verdadeiro crime com que nos deparamos actualmente e que não passa ao lado de qualquer cidadão mundial.


domingo, janeiro 09, 2011

A TAXA DOS TACHISTAS

Apesar de opinião contrária as campanhas eleitorais elucidam-nos em relação a certos pormenores que à partida parecem insignificantes mas que também pesam nos bolsos do cidadão sem que se medite sobre eles e no quanto representam na gestão do bem público. O alvoroço é tão grande com o caso BPN que tudo o resto passa despercebido aos cronistas e jornalistas sempre tão atentos ao mínimo escândalo. É verdade que o noticiaram mas também parece que ninguém deu a importância devida que o assunto merece. Ou porque ele mexe com interesses instalados que aos poucos se vão tornando intocáveis e, portanto tudo se cala propositadamente ou, então porque todos estão a dormir na forma o que vem confirmar sermos um país de brandos costumes até à submissão total.

“Televisões privadas podem não emitir tempos de antena” eis o título da notícia. Tudo por causa de um diferendo entre o Ministério das Finanças e as emissoras privadas. Em consequência dos vários cortes orçamentais que vão tocar a generalidade dos portugueses, o Ministério propôs que a verba a transferir para as televisões fosse menos 30% do que aquela paga no último acto eleitoral e que corresponde a 2,5 milhões de euros no total das três estações generalistas, RTP, SIC e TVI. Segundo uma comissão arbitral reunida para analisar a proposta, a RTP estará disposta a aceitar uma redução de 15% e as estações privadas de apenas 5%. Um estudo do consultor de comunicação, José Aguiar concluiu que, o Estado pagou às três estações durante a última década, cerca de 21 milhões de euros pela transmissão dos tempos de antena relativos ao conjunto das eleições presidenciais, legislativas e europeias. A SIC e a TVI ameaçam não cumprir com a emissão dos tempos de antena dos candidatos presidenciais caso não haja acordo quanto às verbas a receber.

Perante este facto existe aqui assunto que deveria merecer alguma reflexão por parte da sociedade civil que deveria reagir e de quem legisla na defesa dos interesses do Estado. Pelos vistos não há reacção e muito menos legislação justa e competente.

Primeira pouca vergonha, a que propósito o Estado paga à sua estação de televisão, a RTP, para difundir os tempos de antena quando ela está vocacionada para a prestação de serviço público e pelo qual já recebe uma avultada indemnização compensatória de muitos milhões de euros anuais? A RTP só tem que emitir os referidos tempos de antena e não deve exigir sequer por isso mais um cêntimo. Segunda pouca vergonha, porque não se contemplou na lei de atribuição de alvarás às estações privadas a obrigatoriedade do cumprimento dos serviços mínimos de interesse público em relação aos actos eleitorais e que correspondem ao meio mais profundo do sistema democrático do País? Não devem também, as estações SIC e TVI, estar sujeitas aos interesses da defesa da Democracia e assim, à divulgação dos programas eleitorais daqueles que se vão sujeitar ao escrutínio público para representar a totalidade dos cidadãos portugueses? Se não, só porque são instituições privadas e os privados, segundo dizem, fazem aquilo que bem entenderem com o que está na sua posse então, não exijam ao Estado, a todos nós, verbas despropositadas para alimentar as suas empresas e os seus vícios e, que não são assim tão poucos por aquilo que se pode constatar no seu dia-a-dia. Terceira pouca vergonha, as televisões exigem do Estado pagamentos para que elas façam aquilo que deveria ser sua obrigação, divulgar o que é de interesse público. Quarta pouca vergonha, o Estado pactua com estes interesses. Quinta pouca vergonha, ninguém mexe uma palha para denunciar mais toda esta pouca vergonha.

Imagine-se perante este exemplo os milhares de milhões de um saco sem fundo que o nosso Estado utiliza para alimentar as diversas negociatas públicas e privadas que proliferam no nosso país.

E assim se diverte o povo a ver de bolsos vazios a sua rica televisão.


terça-feira, janeiro 04, 2011

OS RESTOS DO ANO

Se daqui a dez anos se perguntar a alguém o que mais o marcou em 2010 de pouquíssima coisa se recordará. Só o que realmente é significativo e provoca consequências na vida dos cidadãos nos anos seguintes se torna efectivamente inesquecível. Fechando os olhos e concentrando-nos no ano que passou e, pensando naquilo que nunca mais vamos apagar das nossas memorias, sobra-nos muito pouco para relembrar 2010. Tentemos um exercício.

José Sócrates, ele e o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, são as figuras eleitas pela maioria dos órgãos de informação mas será sempre o primeiro-ministro aquele de quem dificilmente nos esqueceremos. Diga-se aliás que à semelhança de Cavaco Silva ambos foram os políticos portugueses que melhores condições tiveram para governar o país depois da revolução de Abril, graças às maiorias conquistadas e à duração em que estiveram no poder mas, serão sobretudo lembrados pela grande oportunidade que desperdiçaram para a concretização de projectos consistentes de governação e de desenvolvimento sustentado do país, assim como pela sua submissão perante os grandes da Europa. Eles foram os representantes máximos do Portugal de “mão estendida”. Cavaco beneficiou das melhores condições financeiras proporcionadas pelos fundos da Comunidade Europeia que serviram pouco mais do que para mostrar obra feita do regime com a construção de inúmeras auto-estradas. Como moeda de troca abatemos a nossa agricultura e as nossas pescas. Dificilmente algum dia as recuperaremos. José Sócrates, por debaixo da capa socialista, deitou por terra toda a esperança da esquerda moderada ao enveredar por uma política acentuadamente neoliberal e também deveras incompetente como se veio a verificar e com um apego ao poder tão descarado quer pelas estratégias aplicadas quer pelo exibicionismo demonstrados. Pelos estragos provocados, levará muito tempo até que os portugueses consigam entender os princípios nobres de governantes verdadeiramente socialistas ou de políticas de cariz socialista. José Sócrates colocou o socialismo não na gaveta mas em coma e deixou-nos desanimados e igualmente doentes. Vamos ver se 2010 não foi o ano da agonia de Sócrates e infelizmente da nossa também. Tudo indica que em 2011 poderá ser o ano da sua queda definitiva. Fez por o merecer.

Que mais poderemos recordar a nível nacional relativamente a 2010? Com certeza, a aprovação de um orçamento que contemplou cortes salariais no funcionalismo público, injustos e danosos para a economia e que muito dificilmente serão recuperados mas, isso é já fazer futurologia o que não será muito aconselhável nos tempos que correm.

Quando se falar da legalização dos casamentos gays em Portugal, 2010 é também uma data à qual esta lei ficará para sempre ligada.

A data da morte dos grandes escritores mundiais será eterna tal como as suas obras. Em 2010 faleceu José Saramago.

De resto o que mais nos fica de 2010? Que o Benfica foi campeão nacional de futebol? Ou que José Mourinho foi de novo campeão europeu? Ou que Carlos Queiroz voltou a ser seleccionador nacional e voltou a falhar e a ser polémico? Nada de importante a não ser para as estatísticas futebolísticas. Ficará para a história do chamado desporto rei a realização do primeiro mundial de futebol organizado no continente africano onde os espanhóis, também pela primeira vez, se tornaram nos novos conquistadores.

Além-fronteiras também pouca coisa merecerá nos próximos anos importante destaque a não ser talvez mais uma crise europeia à qual os portugueses estão também associados. Veremos se 2010 não terá sido o princípio do fim do Euro ou mesmo da própria União Europeia. Grécia, Irlanda e Angela Merkl serão recordados pelas piores razões. A líder alemã poderá vir a ser conhecida pela coveira da unidade europeia.

Em 2010 o mundo assistiu a uma viragem histórica da Igreja Católica nas suas políticas conservadoras ao admitir o uso do preservativo. A sua teimosia poderá ter causado inúmeras mortes em todo o mundo. Antes tarde do que nunca. Com esta decisão Bento XVI pode ter conseguido o aplauso e a admiração unânime de toda a gente.

Há um homem que talvez seja muitas vezes mencionado e que nos surpreendeu em 2010. Ele foi denunciador e acaba perseguido. Que importância daremos no futuro a Julien Assanje e ao Wikileaks? Vamos ter que esperar para ver.

De 2010 sobra-nos a transmissão televisiva global de uma operação de resgate dos mineiros chilenos e do aparecimento do Facebook que também passou a ligar entusiasticamente milhões de pessoas. Aguardemos agora para verificarmos se o ano de 2010 não foi aquele que antecedeu um ainda pior. A desconfiança subsiste. Mais do que nunca.



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  • A MEMÓRIA QUE NÃO SE APAGA