domingo, fevereiro 13, 2011

LADRÕES DE ELITE

O governo suíço decretou à banca para que esta congelasse as contas do ex-líder egípcio logo após a sua renúncia do cargo. Enquanto exerceu as funções de presidente do Egipto, a Suíça e o seu sistema bancário consideraram legais, transparentes e proveitosos os avultados depósitos efectuados pelo Chefe de Estado Hosni Mubarak. Não foram precisas muitas horas para que perante as ordens do governo as instituições financeiras da Suíça congelassem as contas bancárias do ditador logo que este deixou de exercer as funções de Presidente do Egipto.

O governo suíço argumenta agora que esta medida tem como objectivo “prevenir qualquer risco de apropriação indevida de activos do Estado egípcio”.

Este comportamento define bem a cretinice, a podridão e o cinismo que caracteriza os governos ocidentais em parceria com a sua banca e restantes instituições financeiras. Promovem a política do sigilo bancário enquanto este proporciona lucros avultados aos estados e à banca independentemente da origem e do modo de como lhes chega o dinheiro. Que se saiba nunca o governo suíço e a banca se preocuparam com a proveniência dos valores depositados no seu país pelo Presidente Hosni Mubarak do Egipto. Só agora após a queda deste e o seu provável exílio é que os governantes suíços se mostram preocupados com a provável apropriação indevida de activos do Estado egípcio.

São o governo suíço e a sua banca que ao longo dos anos se têm apropriado de activos de diversos países e povos através de intermediários e negociantes muito pouco escrupulosos, quer se trate de ditadores, traficantes ou assassinos.

Recomendável seria que o sistema bancário em vez de se apropriar daquilo que não lhe pertence devolvesse de imediato ao Estado egípcio os activos ali depositados por Hosni Mubarak. Já agora, em defesa da transparência, da honestidade e da democracia, denunciasse e solicitasse a investigação de milhares de contas suspeitas depositadas nos seus bancos provenientes das mais diversas partes do mundo. A bem da justiça e da civilização. Nunca o farão. Que lhes importa a cor do dinheiro?

A MOÇÃO CENSURADA

O Bloco de Esquerda anunciou esta semana a apresentação de uma Moção de Censura ao governo para daqui a um mês. Para além da estupefacção generalizada, a ideia desta Moção foi censurada pela generalidade dos observadores políticos inclusive por alguns sectores simpatizantes do próprio BE. Da esquerda à direita parece que todos criticam a sua oportunidade. A esquerda porque teme que a sua aprovação faria cair o governo e que daí resultasse a tomada do poder pelo partido de Passos Coelho, a direita porque para além de não querer “embarcar” em movimentações da chamada extrema-esquerda, teme os tempos actuais para assumir a governação do país em razão de uma provável representação política parlamentar minoritária e das circunstancias económicas muito difíceis a que estaria sujeita para comandar o destino próximo do país.

Pondo de parte a razão da estratégia que levou os dirigentes do Bloco de Esquerda a lançar esta Moção de Censura ao governo de José Sócrates, a ideia teve para já o mérito em demonstrar uma vez mais os aspectos cínicos e podres do nosso sistema político.

Os partidos na oposição não se cansam de criticar a acção governativa deste governo socrático, destacam a sua grande irresponsabilidade governativa que trouxe o país à crise em que nos encontramos e no entanto consideram que ele se deve manter em funções até que outras circunstâncias mais convenientes exijam a mudança. Afinal de contas concluímos que tão irresponsável, incompetente e interesseiro é o governo como é a oposição.

A vida dos portugueses piora dia após dia, desvanece-se cada vez mais a esperança para que melhore nos próximos anos e parece que afinal ninguém tem pressa para que assim não seja. Todos jogam conforme as suas conveniências e interesses. Estabilidade é a palavra de ordem do actual sistema. Soletra-a José Sócrates para justificar condições de governação, di-la também o Presidente da República, Cavaco Silva, quer este comente um qualquer momento político nacional ou mesmo um internacional como a situação no Egipto. Estabilidade é o que exigem aqueles que não vivem as dificuldades comuns dos cidadãos injustamente espoliados. É natural, quem vive bem procura por todos os meios manter a estabilidade, a sua estabilidade.

Qualquer moção de censura contra o estado actual da situação é sempre bem-vinda, venha ela de onde vier e de quando vier. Não há que temer, a direita sabe que a esquerda não governará nos próximos anos e esta, por outro lado, tem que compreender de uma vez por todas, que é preciso acabar com o mito das virtudes de que se arvoram os defensores do sistema neo-liberal. Como? Deixando-os governar segundo os seus princípios até que a grande maioria perceba definitivamente que com eles se chegará ao caos rapidamente. Talvez depois disso as coisas possam mudar para melhor. São esses os tempos que precisamos viver urgentemente. A estabilidade que nos é exigida é a de continuarmos a marcar passo sobre o lamaçal já deveras chafurdado. Todas as moções de censura deveriam ser apoiadas. E aprovadas.



terça-feira, fevereiro 01, 2011

O EGIPTO É JÁ AQUI

Do que se está à espera quando a raiva aumenta em consequência da exploração, da miséria, da fome e da falta de democracia a que se submete um qualquer povo do planeta? Da revolta em massa com mais ou menos sangue. É só uma questão de tempo, mesmo debaixo das ditaduras mais férreas ou dos regimes mais opressivos e injustos.

As lutas pelos direitos mais elementares das sociedades pareciam episódios do século passado. As nomenclaturas actuais querem-nos fazer crer nesse facto, que os problemas actuais da sociedade se resumem aos actos terroristas isolados de grupos religiosos fanáticos, à organização do Estado e dos mercados financeiros. Felizmente, as populações do Egipto e da Tunísia vieram demonstrar afinal que, independentemente do Deus em que se acredita, a justiça é o valor mais sagrado do mundo pela qual todos anseiam e que por ela se deve lutar até à sua possível e real conquista. Opressores e oprimidos serão eternos mas também todas as batalhas travadas entre ambos, quer elas aconteçam na América, em África, na Ásia ou na Europa, não há volta a dar-lhe. Não haverá descanso enquanto as tiranias e a exploração subsistirem. Não se trata de conceitos panfletários em desuso ou de filosofia tipo “cassete” caduca. A luta pela conquista do bem-estar é tão simples e natural como nascer e morrer.

O Ocidente e sobretudo a Europa que, foram pioneiros e sempre estiveram na vanguarda dos valores democráticos, estão agora em sobressalto graças aos acontecimentos recentes. Tardam em perceber que só terão descanso e saudável progresso quando a paz e a justiça forem globais. De nada lhes serve a longo prazo jogar cínica e estrategicamente com outros países do globo e os seus caciques locais com o intuito de a partir daí apenas colher avultados dividendos à custa da exploração e miséria de outros povos. Nesta hora de revolta e incertezas, Estados Unidos e a Europa procuram desde já sugerir soluções imediatas para o problema querendo a todo custo salvaguardar os seus altos interesses mesmo que para tal tenham que aliciar novos aliados destinando aos antigos o desprezo e o seu abandono.

O mundo ocidental está preocupado com o que se está a passar no Egipto. No entanto seria bom que, para além da lição que possam receber a partir dali, também pudessem analisar o futuro do seu regime e os seus actuais comportamentos. Pudessem concluir que as convulsões e revoluções que viveram no passado e que alicerçaram os pilares das suas democracias não foram definitivas. Em qualquer momento elas poderão renascer. Bastará que para tal tenham tendência em continuar a desprezar a justiça como o vêm fazendo ultimamente.


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  • A MEMÓRIA QUE NÃO SE APAGA