O FOGO QUE ARDE

A BBC decidiu divulgar as polémicas caricaturas de Maomé depois de já em Setembro a televisão dinamarquesa o ter feito. Os responsáveis das estações portuguesas, com algumas cautelas assumidas pelos responsáveis da SIC, mostraram-se dispostas a seguir o exemplo da televisão pública inglesa. O assunto até pode ser interessante na conquista de audiências. Pois, talvez os desenhos sejam mais interessantes na pantalha do que por exemplo discutir-se a posição do Irão em relação à energia nuclear. Pelo que li na maioria dos blogs que consulto habitualmente, parece que todos se regozijaram com a medida. Dizem que assim não está posta em causa a liberdade de expressão e de imprensa. Pois não, lá isso é verdade mas a questão não é tão simples como parece. A comunicação social molda as mentes umas vezes para o bem outras nem por isso. Às vezes não faz mal algum pensar mais maduramente nas questões, sobretudo naquelas ligadas à religião que podem alimentar ódios e levar alguns ao fanatismo e ao terrorismo. Não foi por acaso que em relação a esta situação, um especialista em assuntos árabes alertou para o facto de que desta forma se poderia estar a lançar mais algumas achas para a fogueira numa altura em que as coisas estão cada vez mais complicadas no nosso mundo. Numa das caricaturas um cão sodomiza Maomé. Depois fica toda a gente muito espantada e escandalizada quando uns aviões entram por um edifício matando milhares de pessoas. Num desses edifícios até lá podem estar os donos e responsáveis da tal comunicação dita livre e aí o dinheirinho que ganharam com as suas audiências não chega para os livrar da morte. A eles e a todos os outros do tal mundo livre. Custou-nos ver o regozijo com que alguns árabes exibiram a sua satisfação com a queda das Torres Gémeas de Nova York. O mundo ocidental sentiu-se gozado, ficou ferido e viu-se na obrigação de reagir. Com raiva também. E quando é que isto pára? Fomentando assim mais ódios, talvez nunca mais.