sábado, maio 28, 2011

SER OU NÃO SER IMPORTANTE


Foi muito interessante verificar as reacções à forma como foi preso e exposto ao público o chefe do FMI Dominique Strauss-Khan detido por suspeitas de violação a uma empregada de um hotel nova-iorquino. É curioso analisar os vários tipos de comportamentos da opinião pública. As argumentações e teorias da conspiração de que foi alvo DSK segundo os seus simpatizantes, ou a barbaridade cometida a uma humilde e indefesa empregada doméstica segundo os seus adversários políticos. Cada um julga o caso consoante as suas simpatias o que, diga-se, nunca foi lá muito aconselhável. Destaque-se até que ponto as pessoas reagem aos seus interesses pessoais e descuram permanentemente o interesse colectivo. Em termos gerais quem é simpatizante da área politica de DSK considerou também decadentes e próprias de um farwest as imagens divulgadas pela comunicação social. Por outro lado, os seus inimigos, sobretudo os não socialistas, não se cansaram de elogiar o comportamento e eficiência da justiça americana nestes casos da detenção e julgamento de um qualquer cidadão seja ele rico ou pobre e, aproveitar a oportunidade para nos vender uma América justa. Todos gostam de julgar antes que decidam os juízes e sempre conforme mais lhes convém e conforme as suas próprias convicções. Nem uns nem outros discutiram antes seriamente e com profundidade como as autoridades em qualquer parte do mundo devem actuar nestas situações estejam nelas envolvidas gente desconhecida ou gente famosa. Ninguém considera se será justo, correcto ou eficiente expor um réu sobre o qual inicialmente apenas recai uma acusação e até que seja julgado poder tratar-se de um presumível inocente. Foi preciso que um VIP estivesse envolvido numa situação destas para que as opiniões de gente igualmente importante se manifestasse revoltada com os acontecimentos. Não é justo.


terça-feira, maio 24, 2011

MOLHO DE BRÓCULOS


Os socialistas espanhóis de Zapatero e os democratas cristãos alemães de Angela Merkl foram os grandes derrotados nas eleições regionais dos seus países no último fim-de-semana. O que têm de comum? Ambos estão no poder. O que quererá isto dizer? Tão simplesmente que o poder nos diversos países europeus sejam lá eles da esquerda moderada ou da direita conservadora não satisfazem os seus povos. Quais serão as razões do descontentamento dos eleitores? Os poderes políticos olharam para dentro de si, colocaram as suas ideologias de parte e fizeram depender as suas decisões da pressão de outros poderes mais influentes e manipuladores das sociedades. O discurso mainstream limitou-se às áreas económicas e virado apenas para os interesses das empresas, dos accionistas e dos grandes grupos económicos que nunca abdicaram de pressionar, chantagear e até comprar a classe política com poderes legislativos. São inúmeros os exemplos. De parte ficaram as pessoas, no fundo, as únicas capazes de em conjunto desenvolver as sociedades, bastando para isso fazer prevalecer direitos condignos, organização, transparência e justiça. A esquerda comunista corrompeu-se internamente e muito dificilmente conseguirá um dia ressuscitar, a esquerda moderada e a social-democracia abdicaram dos seus princípios e permitiram a entrada nas suas fileiras dos mais variados escroques e oportunistas. Demorarão muitos anos até que voltem a recuperar a sua imagem original, resta saber se ainda irão a tempo e se serão capazes e competentes para o fazer. Sobram a direita e os seus acólitos mas esses, por muito que se queira desmentir ou demonstrar o contrário, sempre foram poder e os resultados das suas políticas estão à vista. O seu caminho leva-nos sempre a edificação de sociedades profundamente injustas, simplesmente porque apenas zelam por quem tem mais poder. Os próximos anos vão certamente ser muitos difíceis senão mesmo trágicos. A Europa está a desfazer-se porque os políticos deixaram de existir. Como sempre manda o mundo financeiro e o resultado foi também como sempre, uma desgraça. Não vai ser diferente.



domingo, maio 15, 2011

O RUMO DA COISA



Se formos bons observadores somos capazes de vislumbrar as principais razões da nossa calamidade. Mesmo que sendo inúmeras, profundas e sem fim porque sem solução fácil, algumas delas são demasiado básicas e de solução simples. Para tal será suficiente viver e compreender o nosso dia-a-dia. Diríamos que talvez nos bastasse implementar uma normativa com uma dúzia de regras obrigadas a um cumprimento rigoroso por parte de todos, de tal forma que não se limitassem no seu conjunto à publicação das mesmas numa qualquer Constituição plena de letra morta e cheia de palavreado bem-intencionado mas na sua essência com susceptíveis artimanhas propositadamente ali colocadas que só alguns doutores quase que auto-nomeados são capazes de decifrar e decidir sobre a sua correcta ou não aplicação. Quando o Presidente da nossa República, o Chefe Supremo da Nação, tem necessidade em determinadas situações enviar para o Tribunal Constitucional leis aprovadas pelo Parlamento com o intuito de esclarecer as suas dúvidas em relação à sua legalidade, das três uma, ou o Presidente é burro e não percebe o que ali está ou, a Constituição é de difícil compreensão ou, a lei aprovada é indecifrável. A questão reside exactamente aqui, as normas legislativas deverão ser simples e sobretudo entendíveis por qualquer um, inclusive por qualquer analfabeto tão só porque as leis são feitas para todos. É pois necessário que todos entendam os seus deveres e as suas obrigações. A partir daqui qualquer país pode decidir o rumo que mais lhe interessa.



Até hoje nunca ficou demonstrado que nenhum povo na sua essência quer menos do que o seu bem-estar o que pressupõe viver numa sociedade profundamente justa, democrática e participativa, feliz e desenvolvida. As leis devem por isso apontar no sentido de evitar as injustiças, a arbitrariedade, a infelicidade e o subdesenvolvimento. A crise de Portugal não se limita ao seu défice financeiro ou económico, este só existe porque o nosso país tem sistematicamente falhado na aplicação de regras que promovam a transparência, a educação, a formação e a sua construção. É certo que não somos únicos, nos tempos que correm, são cada vez mais os países que tal como nós se vão sentindo perdidos e sem saber que caminhos seguir. Nações que no passado foram o farol do princípio de sociedades livres e desenvolvidas, sobretudo na nossa Europa, começam a desvanecer-se. Quando em tempos idos os seus povos acalentavam momentos de grande esperança no futuro, vivem hoje permanentemente assustados. E o caso não é para menos.



As leis e a sua aplicação relacionadas com a educação, a saúde, a justiça, o trabalho, a solidariedade e segurança social e os recursos naturais não podem ser levianas. Devem estar sujeitas a uma discussão profunda e abrangente, práticas na sua execução mas sobretudo, devem ter em conta o bem-estar da generalidade das sociedades e não de grupos que olham para tudo como uma oportunidade de negócio. Com estes pressupostos a partir destes princípios é possível compreender porque até aqui o caminho tem sido errado e porque falhámos tanto. Aconteceu porque os Estados alimentaram e se envolveram nos negócios, porque os Estados quiseram ser empresas, porque as empresas se apropriaram dos Estados e porque os homens que tomaram conta dos destinos dos Estados antes quiseram tomar conta do seu próprio destino e da sua própria vida. Para a maioria das pessoas tudo isto foi ruinoso. Foram poucos os que se salvaram e muito bem. E são estes que nos dizem insistentemente que nos querem salvar tomando conta de nós. E há quem ainda acredite muito neles.



domingo, fevereiro 13, 2011

LADRÕES DE ELITE

O governo suíço decretou à banca para que esta congelasse as contas do ex-líder egípcio logo após a sua renúncia do cargo. Enquanto exerceu as funções de presidente do Egipto, a Suíça e o seu sistema bancário consideraram legais, transparentes e proveitosos os avultados depósitos efectuados pelo Chefe de Estado Hosni Mubarak. Não foram precisas muitas horas para que perante as ordens do governo as instituições financeiras da Suíça congelassem as contas bancárias do ditador logo que este deixou de exercer as funções de Presidente do Egipto.

O governo suíço argumenta agora que esta medida tem como objectivo “prevenir qualquer risco de apropriação indevida de activos do Estado egípcio”.

Este comportamento define bem a cretinice, a podridão e o cinismo que caracteriza os governos ocidentais em parceria com a sua banca e restantes instituições financeiras. Promovem a política do sigilo bancário enquanto este proporciona lucros avultados aos estados e à banca independentemente da origem e do modo de como lhes chega o dinheiro. Que se saiba nunca o governo suíço e a banca se preocuparam com a proveniência dos valores depositados no seu país pelo Presidente Hosni Mubarak do Egipto. Só agora após a queda deste e o seu provável exílio é que os governantes suíços se mostram preocupados com a provável apropriação indevida de activos do Estado egípcio.

São o governo suíço e a sua banca que ao longo dos anos se têm apropriado de activos de diversos países e povos através de intermediários e negociantes muito pouco escrupulosos, quer se trate de ditadores, traficantes ou assassinos.

Recomendável seria que o sistema bancário em vez de se apropriar daquilo que não lhe pertence devolvesse de imediato ao Estado egípcio os activos ali depositados por Hosni Mubarak. Já agora, em defesa da transparência, da honestidade e da democracia, denunciasse e solicitasse a investigação de milhares de contas suspeitas depositadas nos seus bancos provenientes das mais diversas partes do mundo. A bem da justiça e da civilização. Nunca o farão. Que lhes importa a cor do dinheiro?

A MOÇÃO CENSURADA

O Bloco de Esquerda anunciou esta semana a apresentação de uma Moção de Censura ao governo para daqui a um mês. Para além da estupefacção generalizada, a ideia desta Moção foi censurada pela generalidade dos observadores políticos inclusive por alguns sectores simpatizantes do próprio BE. Da esquerda à direita parece que todos criticam a sua oportunidade. A esquerda porque teme que a sua aprovação faria cair o governo e que daí resultasse a tomada do poder pelo partido de Passos Coelho, a direita porque para além de não querer “embarcar” em movimentações da chamada extrema-esquerda, teme os tempos actuais para assumir a governação do país em razão de uma provável representação política parlamentar minoritária e das circunstancias económicas muito difíceis a que estaria sujeita para comandar o destino próximo do país.

Pondo de parte a razão da estratégia que levou os dirigentes do Bloco de Esquerda a lançar esta Moção de Censura ao governo de José Sócrates, a ideia teve para já o mérito em demonstrar uma vez mais os aspectos cínicos e podres do nosso sistema político.

Os partidos na oposição não se cansam de criticar a acção governativa deste governo socrático, destacam a sua grande irresponsabilidade governativa que trouxe o país à crise em que nos encontramos e no entanto consideram que ele se deve manter em funções até que outras circunstâncias mais convenientes exijam a mudança. Afinal de contas concluímos que tão irresponsável, incompetente e interesseiro é o governo como é a oposição.

A vida dos portugueses piora dia após dia, desvanece-se cada vez mais a esperança para que melhore nos próximos anos e parece que afinal ninguém tem pressa para que assim não seja. Todos jogam conforme as suas conveniências e interesses. Estabilidade é a palavra de ordem do actual sistema. Soletra-a José Sócrates para justificar condições de governação, di-la também o Presidente da República, Cavaco Silva, quer este comente um qualquer momento político nacional ou mesmo um internacional como a situação no Egipto. Estabilidade é o que exigem aqueles que não vivem as dificuldades comuns dos cidadãos injustamente espoliados. É natural, quem vive bem procura por todos os meios manter a estabilidade, a sua estabilidade.

Qualquer moção de censura contra o estado actual da situação é sempre bem-vinda, venha ela de onde vier e de quando vier. Não há que temer, a direita sabe que a esquerda não governará nos próximos anos e esta, por outro lado, tem que compreender de uma vez por todas, que é preciso acabar com o mito das virtudes de que se arvoram os defensores do sistema neo-liberal. Como? Deixando-os governar segundo os seus princípios até que a grande maioria perceba definitivamente que com eles se chegará ao caos rapidamente. Talvez depois disso as coisas possam mudar para melhor. São esses os tempos que precisamos viver urgentemente. A estabilidade que nos é exigida é a de continuarmos a marcar passo sobre o lamaçal já deveras chafurdado. Todas as moções de censura deveriam ser apoiadas. E aprovadas.



terça-feira, fevereiro 01, 2011

O EGIPTO É JÁ AQUI

Do que se está à espera quando a raiva aumenta em consequência da exploração, da miséria, da fome e da falta de democracia a que se submete um qualquer povo do planeta? Da revolta em massa com mais ou menos sangue. É só uma questão de tempo, mesmo debaixo das ditaduras mais férreas ou dos regimes mais opressivos e injustos.

As lutas pelos direitos mais elementares das sociedades pareciam episódios do século passado. As nomenclaturas actuais querem-nos fazer crer nesse facto, que os problemas actuais da sociedade se resumem aos actos terroristas isolados de grupos religiosos fanáticos, à organização do Estado e dos mercados financeiros. Felizmente, as populações do Egipto e da Tunísia vieram demonstrar afinal que, independentemente do Deus em que se acredita, a justiça é o valor mais sagrado do mundo pela qual todos anseiam e que por ela se deve lutar até à sua possível e real conquista. Opressores e oprimidos serão eternos mas também todas as batalhas travadas entre ambos, quer elas aconteçam na América, em África, na Ásia ou na Europa, não há volta a dar-lhe. Não haverá descanso enquanto as tiranias e a exploração subsistirem. Não se trata de conceitos panfletários em desuso ou de filosofia tipo “cassete” caduca. A luta pela conquista do bem-estar é tão simples e natural como nascer e morrer.

O Ocidente e sobretudo a Europa que, foram pioneiros e sempre estiveram na vanguarda dos valores democráticos, estão agora em sobressalto graças aos acontecimentos recentes. Tardam em perceber que só terão descanso e saudável progresso quando a paz e a justiça forem globais. De nada lhes serve a longo prazo jogar cínica e estrategicamente com outros países do globo e os seus caciques locais com o intuito de a partir daí apenas colher avultados dividendos à custa da exploração e miséria de outros povos. Nesta hora de revolta e incertezas, Estados Unidos e a Europa procuram desde já sugerir soluções imediatas para o problema querendo a todo custo salvaguardar os seus altos interesses mesmo que para tal tenham que aliciar novos aliados destinando aos antigos o desprezo e o seu abandono.

O mundo ocidental está preocupado com o que se está a passar no Egipto. No entanto seria bom que, para além da lição que possam receber a partir dali, também pudessem analisar o futuro do seu regime e os seus actuais comportamentos. Pudessem concluir que as convulsões e revoluções que viveram no passado e que alicerçaram os pilares das suas democracias não foram definitivas. Em qualquer momento elas poderão renascer. Bastará que para tal tenham tendência em continuar a desprezar a justiça como o vêm fazendo ultimamente.


domingo, janeiro 23, 2011

A DEMOCRACIA

Interessante, a maioria da blogosfera política criticou ao mesmo tempo que desprezou a importância destas eleições presidenciais e dos seus candidatos. Consultando-a, constata-se afinal que não se escreveu nem se falou de outra coisa. Fazem lembrar a maioria dos cidadãos que nas suas discussões do dia-a-dia insultam e maltratam os políticos mas que na hora da eleição, temendo as consequências da sua não participação nas suas vidas pessoais, lá vão eles aflitos colocar a cruz no seu candidato ou partido. Pois, se não for importante a acção e a discussão política dos actos eleitorais, o que será mais importante então para a democracia? Só a sua discussão com vista ao seu aperfeiçoamento. Aprende-se sempre com a democracia e, com estas eleições presidenciais e a sua campanha, sempre se aprendeu e descobriu algo mais que andava por aí escondido.

domingo, janeiro 16, 2011

O POVO E A POLÍTICA

Uma média entre 600 e 800 mil espectadores assistiram aos debates e às entrevistas de Judite de Sousa aos candidatos presidenciais. Mais de um milhão e duzentos mil assistiram à conversa entre a mesma jornalista e o psiquiatra Carlos Amaral Dias a propósito do assassinato de Carlos Castro em Nova York. Independentemente do nível da campanha eleitoral e, até mesmo dos candidatos à presidência da República, estes números demonstram o interesse menor que os portugueses prestam à política. As consequências são depois mais preocupantes, a comunicação social baixa os seus níveis de informação e vai atrás do interesse demonstrado pelo público e dos números das suas audiências sem se preocupar minimamente com as causas nefastas pelo seu comportamento em termos de formação e desenvolvimento de sociedade. “O público quer, nós transmitimos”, apregoam o lema com a justificação descarada de assim cumprirem com a prestação de um serviço público. Nem sequer vale a pena debater o problema a propósito do assunto tais as discussões e análises que já foram feitas ao longo de tantos anos por toda a gama de especialistas nesta matéria. O caso pode até nunca ter solução, pelo menos enquanto a comunicação social e, em especial o jornalismo, forem encarados como um outro qualquer negócio e a ele tenham acesso para os dominar gente sem outro tipo de preocupação que não a facturação ou simplesmente a manipulação. Entretanto…o povo embrutece ou adormece.

Não é por acaso que merecemos os políticos que temos, que nos enganam, que nos exploram e até que nos roubam. Eles lá estão porque o povo não se interessa pela política, não lhe presta a atenção merecida, não medita sobre ela, a despreza e acha que ela só diz respeito aos políticos, doutores, jornalistas e sindicalistas. O povo não se quer esforçar e também não quer estudar e nem pensar o porquê da política e dos políticos serem estes que pouco nos servem ou nos prejudicam. Mas queixa-se e até sabe que, quem não estuda não aprende. No entanto fica sentado à frente da televisão à espera que lhe resolvam o problema sem que ele próprio faça o mínimo para mudar o que quer que seja. Não se interessa pela política e por isso a política lhe há-de dar o tratamento adequado com o mesmo desprezo com que ele despreza a política.


segunda-feira, janeiro 10, 2011

A SELVAJARIA

À margem da campanha eleitoral para as presidenciais, dos juros da dívida portuguesa e do eventual pedido de ajuda ao FMI, das vitórias do Sporting, FCPorto e Benfica no campeonato, da eleição do melhor treinador do mundo e dos golos de Cristiano Ronaldo em Espanha, a comunicação social e o público em geral foram confrontados durante o fim-de-semana com a notícia de um crime ocorrido em Nova York e de uma relação entre um jovem e uma figura pública da sociedade portuguesa. A generalidade do público impressionou-se com a história. Os crimes impressionam tanto quanto mais perto estamos deles ou pela forma como nos são relatados. Este é o caso de mais um crime que não foge à regra. Ele não impressionou nenhum cidadão chinês ou sudanês a residir nos seus países tão só, porque não tiveram conhecimento dele nem tão pouco por terem um qualquer tipo de ligação às personagens envolvidas na história. Vivem as situações de outros crimes semelhantes a este ou não que ocorrem entre pessoas que mais ou menos se conhece.

O impacto deste assassinato que cada um o encara naturalmente à sua maneira, como acontece com quase a totalidade dos crimes, causa em cada uma das pessoas que o acompanha diversos tipos de leitura e até de conclusões mais ou menos plausíveis, sensatas ou não. O verdadeiramente impressionante, mais que o próprio crime ocorrido como o deste fim-de-semana entre dois portugueses em Nova York, é acompanhar nos diversos sites dos jornais nacionais os comentários publicados pelos cidadãos. As deficiências mentais, culturais e educacionais dos seus autores são assustadoras. Perante a amostra divulgada percebemos as razões do nosso atraso civilizacional. No nosso dia-a-dia lidamos com esta gente por perto, nos empregos, nas estradas, etc. Vivem da mesma forma e com o mesmo sentido de cidadania nas sociedades actuais como poderiam viver numa qualquer caverna há milhares de anos. Simplesmente selvagens e esse, é o verdadeiro crime com que nos deparamos actualmente e que não passa ao lado de qualquer cidadão mundial.


domingo, janeiro 09, 2011

A TAXA DOS TACHISTAS

Apesar de opinião contrária as campanhas eleitorais elucidam-nos em relação a certos pormenores que à partida parecem insignificantes mas que também pesam nos bolsos do cidadão sem que se medite sobre eles e no quanto representam na gestão do bem público. O alvoroço é tão grande com o caso BPN que tudo o resto passa despercebido aos cronistas e jornalistas sempre tão atentos ao mínimo escândalo. É verdade que o noticiaram mas também parece que ninguém deu a importância devida que o assunto merece. Ou porque ele mexe com interesses instalados que aos poucos se vão tornando intocáveis e, portanto tudo se cala propositadamente ou, então porque todos estão a dormir na forma o que vem confirmar sermos um país de brandos costumes até à submissão total.

“Televisões privadas podem não emitir tempos de antena” eis o título da notícia. Tudo por causa de um diferendo entre o Ministério das Finanças e as emissoras privadas. Em consequência dos vários cortes orçamentais que vão tocar a generalidade dos portugueses, o Ministério propôs que a verba a transferir para as televisões fosse menos 30% do que aquela paga no último acto eleitoral e que corresponde a 2,5 milhões de euros no total das três estações generalistas, RTP, SIC e TVI. Segundo uma comissão arbitral reunida para analisar a proposta, a RTP estará disposta a aceitar uma redução de 15% e as estações privadas de apenas 5%. Um estudo do consultor de comunicação, José Aguiar concluiu que, o Estado pagou às três estações durante a última década, cerca de 21 milhões de euros pela transmissão dos tempos de antena relativos ao conjunto das eleições presidenciais, legislativas e europeias. A SIC e a TVI ameaçam não cumprir com a emissão dos tempos de antena dos candidatos presidenciais caso não haja acordo quanto às verbas a receber.

Perante este facto existe aqui assunto que deveria merecer alguma reflexão por parte da sociedade civil que deveria reagir e de quem legisla na defesa dos interesses do Estado. Pelos vistos não há reacção e muito menos legislação justa e competente.

Primeira pouca vergonha, a que propósito o Estado paga à sua estação de televisão, a RTP, para difundir os tempos de antena quando ela está vocacionada para a prestação de serviço público e pelo qual já recebe uma avultada indemnização compensatória de muitos milhões de euros anuais? A RTP só tem que emitir os referidos tempos de antena e não deve exigir sequer por isso mais um cêntimo. Segunda pouca vergonha, porque não se contemplou na lei de atribuição de alvarás às estações privadas a obrigatoriedade do cumprimento dos serviços mínimos de interesse público em relação aos actos eleitorais e que correspondem ao meio mais profundo do sistema democrático do País? Não devem também, as estações SIC e TVI, estar sujeitas aos interesses da defesa da Democracia e assim, à divulgação dos programas eleitorais daqueles que se vão sujeitar ao escrutínio público para representar a totalidade dos cidadãos portugueses? Se não, só porque são instituições privadas e os privados, segundo dizem, fazem aquilo que bem entenderem com o que está na sua posse então, não exijam ao Estado, a todos nós, verbas despropositadas para alimentar as suas empresas e os seus vícios e, que não são assim tão poucos por aquilo que se pode constatar no seu dia-a-dia. Terceira pouca vergonha, as televisões exigem do Estado pagamentos para que elas façam aquilo que deveria ser sua obrigação, divulgar o que é de interesse público. Quarta pouca vergonha, o Estado pactua com estes interesses. Quinta pouca vergonha, ninguém mexe uma palha para denunciar mais toda esta pouca vergonha.

Imagine-se perante este exemplo os milhares de milhões de um saco sem fundo que o nosso Estado utiliza para alimentar as diversas negociatas públicas e privadas que proliferam no nosso país.

E assim se diverte o povo a ver de bolsos vazios a sua rica televisão.


terça-feira, janeiro 04, 2011

OS RESTOS DO ANO

Se daqui a dez anos se perguntar a alguém o que mais o marcou em 2010 de pouquíssima coisa se recordará. Só o que realmente é significativo e provoca consequências na vida dos cidadãos nos anos seguintes se torna efectivamente inesquecível. Fechando os olhos e concentrando-nos no ano que passou e, pensando naquilo que nunca mais vamos apagar das nossas memorias, sobra-nos muito pouco para relembrar 2010. Tentemos um exercício.

José Sócrates, ele e o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, são as figuras eleitas pela maioria dos órgãos de informação mas será sempre o primeiro-ministro aquele de quem dificilmente nos esqueceremos. Diga-se aliás que à semelhança de Cavaco Silva ambos foram os políticos portugueses que melhores condições tiveram para governar o país depois da revolução de Abril, graças às maiorias conquistadas e à duração em que estiveram no poder mas, serão sobretudo lembrados pela grande oportunidade que desperdiçaram para a concretização de projectos consistentes de governação e de desenvolvimento sustentado do país, assim como pela sua submissão perante os grandes da Europa. Eles foram os representantes máximos do Portugal de “mão estendida”. Cavaco beneficiou das melhores condições financeiras proporcionadas pelos fundos da Comunidade Europeia que serviram pouco mais do que para mostrar obra feita do regime com a construção de inúmeras auto-estradas. Como moeda de troca abatemos a nossa agricultura e as nossas pescas. Dificilmente algum dia as recuperaremos. José Sócrates, por debaixo da capa socialista, deitou por terra toda a esperança da esquerda moderada ao enveredar por uma política acentuadamente neoliberal e também deveras incompetente como se veio a verificar e com um apego ao poder tão descarado quer pelas estratégias aplicadas quer pelo exibicionismo demonstrados. Pelos estragos provocados, levará muito tempo até que os portugueses consigam entender os princípios nobres de governantes verdadeiramente socialistas ou de políticas de cariz socialista. José Sócrates colocou o socialismo não na gaveta mas em coma e deixou-nos desanimados e igualmente doentes. Vamos ver se 2010 não foi o ano da agonia de Sócrates e infelizmente da nossa também. Tudo indica que em 2011 poderá ser o ano da sua queda definitiva. Fez por o merecer.

Que mais poderemos recordar a nível nacional relativamente a 2010? Com certeza, a aprovação de um orçamento que contemplou cortes salariais no funcionalismo público, injustos e danosos para a economia e que muito dificilmente serão recuperados mas, isso é já fazer futurologia o que não será muito aconselhável nos tempos que correm.

Quando se falar da legalização dos casamentos gays em Portugal, 2010 é também uma data à qual esta lei ficará para sempre ligada.

A data da morte dos grandes escritores mundiais será eterna tal como as suas obras. Em 2010 faleceu José Saramago.

De resto o que mais nos fica de 2010? Que o Benfica foi campeão nacional de futebol? Ou que José Mourinho foi de novo campeão europeu? Ou que Carlos Queiroz voltou a ser seleccionador nacional e voltou a falhar e a ser polémico? Nada de importante a não ser para as estatísticas futebolísticas. Ficará para a história do chamado desporto rei a realização do primeiro mundial de futebol organizado no continente africano onde os espanhóis, também pela primeira vez, se tornaram nos novos conquistadores.

Além-fronteiras também pouca coisa merecerá nos próximos anos importante destaque a não ser talvez mais uma crise europeia à qual os portugueses estão também associados. Veremos se 2010 não terá sido o princípio do fim do Euro ou mesmo da própria União Europeia. Grécia, Irlanda e Angela Merkl serão recordados pelas piores razões. A líder alemã poderá vir a ser conhecida pela coveira da unidade europeia.

Em 2010 o mundo assistiu a uma viragem histórica da Igreja Católica nas suas políticas conservadoras ao admitir o uso do preservativo. A sua teimosia poderá ter causado inúmeras mortes em todo o mundo. Antes tarde do que nunca. Com esta decisão Bento XVI pode ter conseguido o aplauso e a admiração unânime de toda a gente.

Há um homem que talvez seja muitas vezes mencionado e que nos surpreendeu em 2010. Ele foi denunciador e acaba perseguido. Que importância daremos no futuro a Julien Assanje e ao Wikileaks? Vamos ter que esperar para ver.

De 2010 sobra-nos a transmissão televisiva global de uma operação de resgate dos mineiros chilenos e do aparecimento do Facebook que também passou a ligar entusiasticamente milhões de pessoas. Aguardemos agora para verificarmos se o ano de 2010 não foi aquele que antecedeu um ainda pior. A desconfiança subsiste. Mais do que nunca.



segunda-feira, dezembro 27, 2010

O JOGO DO MONOPÓLIO E DA PIRÂMIDE

Crê-se que Charles Darrow foi quem inventou nos anos 30 nos Estados Unidos um jogo de mesa que entusiasmou gerações nas décadas seguintes. Os jovens reuniam-se em casa um dos outros para jogar ao Monopólio. As regras eram simples, havia notas que simbolizavam o dinheiro, um tabuleiro onde estavam representados imóveis importantes de várias cidades assim como algumas indicações a cumprir pelos vários jogadores, uns dados que eram lançados e que definiam a sua sorte assim como o caminho a percorrer por cada um e por último, várias peças em plástico que conforme as possibilidades monetárias e certas negociações eram adquiridas por cada um dos intervenientes e que serviam como que títulos de propriedade privada. A finalidade do jogo era simples, conforme ele decorresse, sairia como vencedor aquele que conseguisse monopolizar todos os títulos de propriedade levando à falência os restantes jogadores mas sem que alguém saísse magoado.

Com a idade os jovens foram percebendo que na vida adulta também se jogava mas com dinheiro, imóveis e títulos de propriedade reais. O resultado assemelhava-se ao efeito de uma pirâmide em que os mais ricos estavam no topo e os mais pobres constituíam a sua base. Como o jogo era mais sério havia que estabelecer regras para que ele pudesse ser jogado. Os Estados definiam essas regras às quais os jogadores estavam submetidos. Apesar das diferentes camadas que constituíam a pirâmide e da prática de graves injustiças no seio dela, havia um certo controlo que permitia a sua sustentabilidade na base de constantes negociações, lutas e conquistas de parte a parte. Este jogo de adultos tinha um nome, Capitalismo.

Tal como os jovens que se cansavam depois de muitas horas a jogar o Monopólio, a partir da década dos anos 80 do século passado também os adultos se cansaram do Capitalismo e resolveram alterar o seu regulamento sem no entanto acabar com o jogo. Queriam-no agora mais sofisticado. Sem regras, sem obrigações e sem Estados a controlá-lo. A partir daí só as estratégias de cada um passariam a contar. Completamente livres de amarras, segundo os teóricos do novo jogo, o mercado, o negócio e as possibilidades de cada um só por si bastariam para ditar o futuro de todos. O novo jogo deixou de se denominar por Capitalismo e assumiu um novo nome, Neo-liberalismo. A sua finalidade e objectivos consiste em levar os jogadores mais poderosos a dominar todos os outros, alargando cada vez mais a base da pirâmide e dos vencidos. O jogo termina quando já nada restar. Um jogo que já está a magoar.


sexta-feira, dezembro 24, 2010

IMPARCIAL

O trabalho suplementar prestado pelos funcionários públicos durante o ano de 2010 mas que seja pago a partir de Janeiro ficará sujeito a cortes.

A distribuição dos lucros em 2010 aos accionistas da PT que deveria ser feita em 2011 foi antecipada para este ano a fim de evitar o pagamento de impostos mais gravosos conforme o definido pelo Orçamento de Estado para 2011.

Aqui estão duas decisões em que o governo Sócrates foi imparcial em relação a estas medidas. Não interferiu no procedimento levado a efeito pelos accionistas da PT apesar de lesivo para Estado em muitos milhões de Euros mas que, segundo o governo, economistas e analistas defensores do sistema, caso o governo alterasse a lei, poderia no futuro e em consequência, para além de uma perda de confiança, levar as grandes empresas e investidores a uma fuga de capitais e investimentos no nosso país. Também o governo decidiu não antecipar o pagamento do trabalho suplementar aos funcionários públicos que serão assim penalizados através dos impostos mais gravosos do próximo ano quando, por uma questão de justiça, contratualmente deveriam receber conforme o ano a que se reporta o trabalho executado. O governo preferiu manter a sua "isenção" e deixar correr tudo conforme a normalidade de sempre. O Estado não receberá da parte dos accionistas mas em compensação rentabilizará o seu orçamento à custa dos funcionários públicos. Assim ninguém fugirá de Portugal, as grandes fortunas estarão sempre salvaguardadas e os pobres nunca terão o dinheiro suficiente para atravessar as nossas fronteiras. Ficamos juntos até para que uns suportem os outros.

Que os ricos paguem a crise é slogan caduco, até porque eles nunca a pagaram, esta frase famosa dos movimentos de esquerda, nunca passou disso mesmo, de palavra de ordem. As crises sempre foram pagas pelos mais fracos e são estes que as vão continuar a pagar e a suportá-las. Aqui se comprova de novo que a justiça é cega. Sobretudo a portuguesa. Não vê estas e outras injustiças.


quinta-feira, dezembro 23, 2010

UM CONTO DE NATAL

“Este País não é para velhos” não é uma ficção em cinema é uma realidade portuguesa. Enfrentar o ambiente de uma casa chamada de repouso para os mais idosos que, pelas mais variadas razões, ali têm que permanecer até ao final dos dias que lhes resta, é na sua maioria um soco no estômago que atinge as almas mais sensíveis. Aos nossos velhos damos-lhes uma sala despida de um prédio da cidade cheia de cadeiras com um televisor em fundo para o qual eles olham e não vêem nada. Um corredor liga os seus quartos onde dormem aos pares com os aquecedores desligados da corrente para que se poupe energia e assim os seus proprietários rentabilizem mais do que os elevados alugueres que debitam por cada cabeça. Das janelas olha-se para fora e deparamo-nos com as traseiras decadentes de uns prédios onde vivem aqueles que também caminham para a velhice. Não há luz do sol que ilumine os nossos velhos, não existem espaços arejados e agradáveis onde eles possam nem que por breves momentos viver um ambiente tranquilizador e sereno. Ali estão abandonados só porque têm fracos recursos e já nada têm para dar. A sua companhia resume-se à prestação profissional de uns funcionários miseravelmente pagos pela generalidade dos exploradores da maioria dos lares da terceira idade do nosso país.

Dizem-nos que tudo está devidamente legislado, que tais lares são habitualmente alvo de inspecções por entidades especializadas. É verdade, quem legisla sabe que nunca viverá uma situação idêntica à dos nossos pobres velhos. Governam no sentido de nunca ter que passar pelo mesmo. Está tudo legislado, está tudo a ser tratado. Metem nojo, metem raiva.




quinta-feira, dezembro 16, 2010

DIREITO AOS RESTOS

Ficou registado nas imagens. Cavaco Silva, Presidente da República portuguesa, ao lado de Assis Ferreira, administrador do Casino Estoril. Não estavam a jogar nas Slot Machines, no Bacará, na Banca Francesa, no Black Jack, na Roleta e também não estavam a jogar sentados numa mesa de Póquer. Num ambiente, onde geralmente à vista daqueles que desconhecem aquele meio, se faz gala em ostentar o luxo mas onde se fomenta a miséria de muitas famílias, estas duas personagens promoviam a realização de uma acção de solidariedade em favor da pobreza. A iniciativa ficou designada como “Direito à Alimentação”, consiste na aprovação em autorizar o aproveitamento dos restos de comida dos restaurantes para alimentar os mais pobres. Cavaco Silva, Presidente de um Estado de Direito, considera um Direito as pessoas alimentarem-se com restos de comida fornecidos pelos restaurantes. Cavaco não percebe e também não raciocina, razões que o levam a embarcar neste tipo de disfarce da miséria própria dos países do terceiro mundo.


quarta-feira, dezembro 08, 2010

A RETER

Está interessante a discussão das diversas reacções em relação aos documentos secretos revelados pela organização Wikileaks. Conforme as tendências políticas de cada analista, o fenómeno agora surgido assume leituras diferentes, tudo se resume ao compromisso político que cada personagem faz do assunto. Quem não está profundamente comprometido com qualquer estratégica política assiste com certa distância à discussão pública das consequências do caso tentando perceber o imbróglio de que muito se fala e que está a mexer com a diplomacia de muitos países. Deverão ser poucos os que se dão ao trabalho em consultar todos os documentos - por enquanto ainda públicos em sites não abatidos - revelados pela organização denunciante. A maioria dos minimamente interessados nas questões políticas limita-se a ler a triagem feita pela imprensa. Aos poucos se tiram algumas conclusões. Existem situações importantes de análise pela gravidade que acarretam à transparência exigida aos regimes democráticos mas igualmente pormenores insignificantes e óbvios que pouco adiantam ao que o comum dos cidadãos já sabia ou suspeitava que assim se passavam.

À partida parece que a organização Wikileaks desempenhou um papel de investigação que a generalidade da comunicação social se vem abstendo de fazer porque esta deixou de ser uma instituição independente e sujeita a pressões de vária ordem apesar de quem queira fazer crer que este caso se resume a uma atitude política.

Os mesmos que condenam a revelação dos documentos são aqueles que estão sempre prontos a aplaudir a divulgação de outros que colocam em causa os regimes suspeitos e violadores dos direitos humanos como a Rússia, o Irão, a Coreia do Norte ou a China. Para estes, as denuncias feitas pela Wikileaks não são mais do que um ataque aos EUA ou aos regimes democráticos do Ocidente como se eles fossem a pureza da humanidade. Não são só as ditaduras que violaram os mais elementares Direitos Humanos e fabricaram guerras e invasões originárias de grandes desgraças resultando em milhares de vítimas. Mais ainda, muitas das decisões que arrastaram os povos para tais hecatombes não foram porque estavam em causa a Democracia e a Independência dos nossos países, muitas das grandes atrocidades foram cometidas em prol de grandes negócios.

Os analistas anti-Wikileaks preocupam-se agora com o futuro do segredo e da confidencialidade das embaixadas, como diz Pacheco Pereira, “com a franqueza das conversas entre embaixadores, governantes e gente influente”. Sejam transparentes e sérios que os povos não os condenarão por isso, se têm muito para esconder e manter em segredo, há razões para duvidar que seja benéfico para a Democracia. Compreende-se que algumas estratégias que procurem salvaguardar os regimes democráticos impliquem negociações em segredo mas estas, após atingidos os fins, podem ser do domínio público porque, quando justas e correctas, nada as faz temer. A preocupação de muitos, é o muito do que foi divulgado não abona os tais defensores da Democracia em consequência dos seus procedimentos, é só isso.


domingo, novembro 28, 2010

Ingenuidade-1-Não papamos grupos-1

Primeira parte do jogo Sporting-FC Porto, os da casa estão a ganhar por 1-0, João Moutinho cai no seu meio campo e fica lesionado. Na altura os leões partem em contra ataque perigoso. Liedson numa atitude de fair-play vê o seu ex-companheiro de equipa no chão e interrompe o jogo atirando a bola para fora para que o jogador do FC do Porto possa ser assistido.

Segunda parte do jogo Sporting-FCPorto, Maniche, jogador do Sporting, numa disputa de bola no meio campo, cai e fica também estendido no relvado. Os jogadores do FC do Porto ficam com a bola na sua posse, é João Moutinho que pega na bola, concentrado na jogada não se lembra já do que se passou consigo na primeira parte do encontro, desmarca Hulk este centra para a área do Sporting, aparece Falcao e restabelece a igualdade. Maniche continua deitado e os jogadores do FCPorto festejam o seu golo no meio da grande euforia do seu treinador. Não houve mais golos até ao final do jogo.

Razão tinha o actual treinador do Benfica quando numa época recente orientava o Clube dos Belenenses, a propósito do Fair Play no futebol disse Jorge Jesus, “o Fair Play é uma treta e os jogadores das minhas equipas não vão nisso”. O jogo desta noite demonstrou-o, o Sporting não passa de um clube ingénuo. Na tribuna VIP Bettencourt estava satisfeito por ter ao seu lado o presidente Pinto da Costa. Não se sabe se terá aprendido alguma coisa com o líder do FCPorto que é muito mais experiente nestas andanças de como se deve lidar com os pontapés na bola e como os seus jogadores devem encarar o fenómeno futebolístico. Fair Play é coisa para meninos.


sábado, novembro 27, 2010

OS PARASITAS DA LIBERDADE

Na semana da Greve Geral o que ficou mais patente foi a pobreza de espírito da generalidade das pessoas em relação à análise das razões de uma paralisação laboral de grandes dimensões.

Aqueles que forçosamente tiveram que decidir e sentir os efeitos desta greve não escaparam às mais variadas reacções, quer dos grevistas, quer em relação a outros que optaram por não aderir à paralisação. Compreende-se que uns justifiquem em termos simples as razões da sua adesão sobretudo por revolta com a redução dos seus salários, congelamento de evolução nas suas carreiras profissionais e mais um ou outro pormenor que afectam directamente os seus rendimentos e consequentemente as suas vidas privadas. Para eles, estas são simples razões mais que suficientes que justificam a sua decisão. Relativamente àqueles que entenderam não alinhar na Greve Geral, apesar de ter-se que respeitar igualmente a sua tomada de posição, foi no entanto confrangedor escutar das suas bocas as mais ridículas desculpas para se justificarem perante outros a sua não adesão à paralisação geral.

Compreende-se que aqueles que trabalham com contratos precários e sem qualquer segurança em termos profissionais, sobretudo no sector privado, temam as represálias a que certamente se sujeitam aderindo a qualquer tipo de greve já que depois ninguém lhes valerá na hora da aflição. Em relação aos restantes a situação não se deveria sequer colocar-se. São em termos gerais gente egoísta, não solidária, oportunistas ou bastante ignorantes perante as suas justificações. Porquê? Porque no fundo são igualmente na sua maioria trabalhadores como os outros, alvos de iguais injustiças e exploração mas que perante as lutas encetadas na procura da justiça ora se amedrontam ou se vergam e, para até tentar tirar algum proveito da situação, rastejam diante das suas chefias oferecendo os seus préstimos para o que for necessário. Mais grave ainda, usufruindo de direitos profissionais e sociais ignoram ou fazem por ignorar que, para a conquista desses direitos de que eles agora beneficiam se deveu à custa de árduas lutas em que muitos inclusive pagaram com as suas próprias vidas ao longo da história da humanidade. A estes homens e mulheres que se empenharam em guerras e lutas muitos dos beneficiados de hoje respondem com ignorância ou ingratidão. A sua miséria de pensamento e espírito deveriam chocar-nos.

Era importante compreender a importância desta Greve Geral. Não são só as reduções de salários e de outros benefícios que a justificam. A situação das sociedades mais desenvolvidas e democráticas está muito rapidamente a degradar-se muito gravemente sem que se veja em termos de decisões do poder soluções justas para os problemas que se nos colocam no futuro mais próximo, bem pelo contrário. Quem não quer compreender a gravidade do problema está equivocado.

De lamentar ainda as diversas análises publicadas em relação à Greve Geral do passado dia 24. Sobretudo as que foram expostas na edição de quinta-feira no jornal “O Público” por Pedro Lomba e Maria Helena Matos. Perante tanta verborreia anti-greve debitada apetece perguntar a estes e outros tantos a quem devem eles a sua liberdade de expressão. Terão noção que igualmente beneficiaram com as lutas e as conquistas da democracia? Contra estes e contra outros tantos impõe-se mais do que nunca e, antes que seja tarde demais, aquela frase batida, a luta continua.


sábado, novembro 06, 2010

SENTIDO DE ESTADO

Esta semana foi aprovado na Assembleia da República o pior Orçamento de Estado de que há memória nas últimas décadas. Pelas suas consequências outros iguais ou piores se seguirão. Não será exagero se se disser que ele se poderá tornar catastrófico para o futuro do país. O governo PS arquitectou-o, o PSD, o maior partido da oposição negociou-o e viabilizou-o. A maioria da sociedade considerou-o um mau orçamento mas, forças poderosas, talvez mesmo aquelas mais responsáveis pelo estado a que levaram o país, forçaram a sua aprovação. Todos eles deram um nome à decisão, Sentido de Estado. Coitado do Estado.

terça-feira, outubro 26, 2010

NO CU DA EUROPA


SEM RUMO

Portugal está sem rumo, Portugal vai com as outras. Entenda-se outras como o conjunto dos países da União Europeia. A Europa abandonou a sua tradição política, a de organização de uma sociedade desenvolvida, democrática e justa, resume-se agora a uma agremiação económica. Quando se fala de economia fala-se de negócios e nestes vence quem é mais forte ou mais rico. Por culpa própria Portugal é fraco e pobre em quase todos os domínios.

A ILUSÃO

Por um bom número de razões foi-nos benéfica a adesão de Portugal à CEE. Estávamos atrasados, recebemos ajudas económicas para nos desenvolvermos e juntámo-nos aos grandes da Europa e à sua experiência em termos de organização. Passámos a fazer parte de uma comunidade forte tanto política como economicamente. Portugal que até aí dificilmente se governava e se desenvolvia achou que graças à nossa aproximação e adesão ao grupo dos mais ricos da Europa nos livraria eternamente da responsabilidade. Ficou a contar eternamente com o ovo no dito da galinha.

A FESTANÇA

Portugal deitou-se a dormir descansadamente e confiante na governação dos seus responsáveis enquanto o mundo global dos negócios, como é seu timbre, não pregou olho e se foi transformando com a grande ajuda de políticas económicas e estruturais sedimentadas por um actor de segundo plano de Hollywood que virou presidente da Grande Potência mundial e pela Dama de Ferro, a primeira ministra britânica Margaret Tatcher. Prestou-se pouca atenção às consequências dos caminhos traçados pelos seguidores daquela gente que viram a partir daí a grande oportunidade para a expansão de negócios não controlados e pouco claros. Entretanto por cá, os nossos governantes entretiveram-se num autêntico regabofe, organizaram feiras e festas, gastaram à vontade, usurparam onde era possível, distribuíram prendas entre si, embebedaram-se na vida fausta ao ponto de desprezarem as suas funções para as quais foram designados. Impunha-se-lhes competência, responsabilidade, capacidade de gestão do bem público, poder de organização qualidades de liderança e sobretudo visão estratégica. Cagaram para tudo isso. Chegados à hora do aperto como não reúnem nenhum daqueles atributos, no meio da grande confusão e sem ideias alternativas, limitam-se a receber ordens da sua hierarquia e no imediato pô-las em prática receosos dos castigos que daí poderão advir caso não se comportem como ditam os poderosos. Perdida a oportunidade do passado agora nem tempo lhes dão para que raciocinem, diga-se também que de pouco lhes valeria tal a sua incompetência, ignorância e promiscuidade. O seu nível é de tal forma tão baixo que na eventualidade de uma segunda oportunidade voltariam a cometer as mesmas atrocidades, não governando mas governando-se como sempre o fizeram.

AS CINTURADAS

Portugal enriqueceu com a sua entrada na Comunidade Europeia, Portugal vai empobrecer com a sua permanência na União Europeia porque a própria Europa também ela está a apodrecer. Os países mais ricos impõem as regras e estas são nefastas para aqueles que são mais pobres. Os tecnocratas da política europeia embrulhados numa cumplicidade com o poder financeiro ordenam o aperto do cinto mesmo àqueles que não têm sequer cinto e pouco têm de cintura. As ordens são de austeridade, cortes em direitos adquiridos, ordenados baixos, aumento de desemprego, medo e mais grave de que tudo, políticas financeiras no intuito de não permitir aos países em maiores dificuldades mais investimentos no sentido do desenvolvimento. As consequências são a recessão e a degradação rumo a mais miséria. Vem agora a depressão porque não é a austeridade que assusta as populações mas é sobretudo a falta de esperança no futuro.

O SUFOCO

Os novos tempos apontam para que a própria União Europeia, mantendo à frente dos seus destinos a actual classe dirigente e as actuais políticas, corre o risco de se desmembrar por completo. Quando a crise é global é tempo do safe-se quem puder. Os países mais ricos não vão querer ajudar e os mais pobres não vão aguentar estar eternamente subjugados, pelo menos aqueles com mais tradições democráticas e revolucionárias. Diz-nos a história que sempre que assim aconteceu foram inevitáveis as convulsões que resultaram em mudanças radicais nos paradigmas. A União Europeia sufoca e não será eterna nos moldes actuais. Historicamente o seu fim está próximo, mais do que muitos “especialistas” possam calcular. É deveras complicado pensar até nas consequências do grande desastre quase certo. Vai certamente ser demasiado duro para não dizer catastrófico para as gerações de agora e para as futuras mais próximas.

O MONOPÓLIO

Há forças poderosas que ditam as regras e estas não são mais do que a asfixia dos mais fracos. Consoante a resistência de cada um, dela dependerá mais ou menos a sua sobrevivência. Na hora do desmembramento, individualmente cada país seguirá o seu caminho. Os que melhor se prepararam mais aptos estarão para enfrentar os desafios do futuro. Do conjunto dos mais fracos seguirão em frente aqueles que mais cedo forem capazes de perceber que o caminho não é único e muito menos este que lhe gritam aos ouvidos e o querem impor. Os fortes da União Europeia não querem distribuir, querem restringir direitos, debitar facturas a qualquer custo para alimentar cliques e sociedades anónimas sedentas sempre de mais e mais independentemente dos seus lucros avultados e ainda limitar os investimentos e consequente progresso dos mais fracos. Quando uma União Europeia que reúne vários países com uma imensidão histórica, é sobretudo mais dirigida pelos ditames de uma instituição bancária como o Banco Central Europeu do que por uma instituição política com obrigações de zelar pela justiça, bem-estar, paz e desenvolvimento, ela deixa de ser uma união social de culturas e povos para passar a existir como grupo de clientes sujeitos a um monopólio. Quanto mais cedo os mais fracos forem capazes de dizer, NÃO, não queremos jogar monopólio, mais hipóteses terão de se salvar da bancarrota e da falência. Sair a tempo pode significar a salvação. A decisão não é fácil, é preciso estratégia, coragem, trabalho, sacrifício e reestruturar-se com vista a rentabilizar todo o seu potencial e riqueza naturais, mobilizar e responsabilizar, investir em formação, justiça e educação e ir aprendendo a viver com aquilo que se tem, apostar no que realmente nos é mais importante e comum à generalidade de todos e não só de alguns.

NEGÓCIOS À PARTE

É preciso que se perceba que muitos países democráticos se desenvolveram sem que forçosamente tivessem que pertencer a uma qualquer união. Têm resistido traçando o seu próprio caminho apesar de igualmente terem que enfrentar a tal globalização económica, a concorrência dos chamados países emergentes, muitos destes sujeitos a fortes ditaduras e nos quais se regista a maior ausência no respeito pelos mais elementares direitos humanos.

O futuro definirá quem melhor e mais cedo sobreviverá ao caos europeu. Serão certamente os mais bem preparados e com melhor poder de organização. São eles próprios que, antecipando as consequências do desastre, serão os primeiros com coragem a romper com o actual estado da situação.

O TITANIC

Perante tão grave cenário que futuro está reservado para Portugal e para os portugueses? O fado de sempre, resignação, obediência e servilismo na esperança de que haverá sempre alguém que nos salvará e tomará conta de nós. Portugal nunca romperá com coisa alguma e em relação à União Europeia ser-lhe-á sempre fiel até ela se desfazer por completo e não haver mais espaço para a esmola. Sobretudo porque Portugal não tem classe dirigente capaz de ser superior. Estamos eternamente condenados a viver com a peste que nos assola. Coitados dos portugueses.

domingo, outubro 24, 2010

SEMELHANTES PROBLEMAS DIFERENTES SOLUÇÕES

A crise que abala grande parte dos países da União Europeia, apesar de causas comuns com mais ou menos incompetência, traz graves consequências à maioria dos cidadãos europeus. Contudo existem diferenças na procura de soluções levadas a efeito por cada um dos países. É civilizacional e cultural a forma de encarar os problemas. Registe-se o seguinte exemplo, os maiores cortes do Orçamento de Estado em Portugal centram-se na Saúde e na Educação, cerca de 11%, enquanto em Inglaterra relativamente as estas duas áreas fundamentais ao bem-estar e ao desenvolvimento dos países, na Saúde prevê-se um reforço de dois mil milhões de libras até 2015 e na Educação as escolas vêm o seu orçamento subir de 35 para 39 mil milhões de libras. Por alguma razão há uns mais pequenos que outros.


ALTA VELOCIDADE


José Sócrates é exímio no aproveitamento de qualquer sinal positivo da economia portuguesa quer eles sejam projetados por entidades qualificadas ou quando qualquer investidor estrangeiro escolhe Portugal na procura expansionista dos seus negócios como aconteceu esta semana em relação à EasyJect. No entanto, o Primeiro Ministro português deixou passar ao lado mais um dos tais sinais demonstrativos de que nem tudo vai assim tão mal como apregoam os mensageiros da desgraça.

Mais 4% de automóveis de luxo vendidos em Portugal nos primeiros nove meses de 2010, em comparação com o mesmo período do ano passado.

São estes os últimos dados da Associação de Automóveis de Portugal (ACAP), que mostram que entre janeiro e setembro deste ano foram vendidos 614 carros de luxo em Portugal.

Em casos como a Jaguar e a Lamborghini, as vendas quase duplicaram nesse mesmo período. No primeiro caso, a marca vendeu mais 144% nesse espaço de tempo do que no período homólogo de 2009. A Porsche registou o maior crescimento, ficando perto dos 100%.

Os dados da ACAP coincidem com os das Finanças, que revelam um crescimento de 30% nas receitas com o Imposto sobre Veículos.

Os conselheiros e assessores de Sócrates andam distraídos, aqui está uma notícia conveniente à propaganda e eles não deram por ela. Sócrates devia despedi-los já a grande velocidade. Imagine-se o que se pouparia só em ordenados e regalias de que gozam tão influentes figuras. Daria para mais alguns portugueses que estão atrapalhados com a crise adquirirem também uma bela máquina.

domingo, outubro 17, 2010

A PEN DA RUÍNA


Já se conhece o Orçamento para 2011. Resta-nos aguardar pela sua previsível aprovação na Assembleia da Republica. As ordens de Bruxelas, de Ângela Merkl, de Durão Barroso, do Banco Central Europeu, do Fundo Monetário Internacional, dos nossos ex-presidentes da República, dos nossos banqueiros e dos empresários portugueses, ordenaram em primeiro lugar ao governo de José Sócrates que tomasse medidas em termos de austeridade e, depois da ordem cumprida, pressionaram escandalosa e vergonhosamente o maior partido da oposição a ter que viabilizar o dito.


Quando todos consideram tratar-se de um mau Orçamento é absolutamente incrível que nos venham dizer ser fundamental a sua aprovação. Afirmam ainda convictamente, ou a aprovação ou em alternativa a desgraça para Portugal. Impõe-se então perguntar, como é que um Orçamento que é mau logo à partida mesmo assim se apele tanto à sua viabilização? Só há uma resposta para tamanho disparate, perante a falta de ideia para outro tipo de soluções a conclusão é a de que o país está perdido.


domingo, outubro 10, 2010

PANFLETOS DE COMUNICAÇÃO

Já lá vão os tempos em que o público respeitava e acreditava no jornalismo. De uma maneira geral os jornalistas eram de uma classe respeitada e constituída na sua maioria por intelectuais que optaram pela profissão por gosto e dedicação. Hoje em dia os órgãos de informação e as suas redacções massificaram-se. Graças ao carácter nobre que o jornalismo foi assumindo ao longo dos anos, à sua visibilidade, influência e poder, à criação de cursos superiores relacionados nas universidades, os jovens viram aqui outras saídas profissionais para as suas vidas. Os grupos económicos, também eles, descobriram o filão do qual podem extrair alguns dividendos, para além dos financeiros, sobretudo os de influência junto de outros órgãos de poder.



Não há temática que não tenha ligado a ela um qualquer órgão de comunicação reconhecido como fazendo parte da actividade jornalística. Com a sua enorme propagação começou a ser mais difícil a verificação pelo público e pelas entidades competentes do cumprimento das regras mais elementares do jornalismo. Aos poucos a sua actividade digamos que se foi abandalhando. A táctica implementada pelos interessados no fenómeno foi inteligente e simples. Dispensaram-se os jornalistas com mais idade, maior experiência, mais exigentes, reivindicativos e rigorosos na sua função, a alguns acenaram-lhes com cargos de diversos tipos com alguma importância e razoavelmente bem remunerados ou, pura e simplesmente reformaram-nos facultando-lhes uma ou outra regalia úteis ao seu presente e futuro, em suma, acomodaram a sua grande maioria. Os novos proprietários dos órgãos de informação, para assegurar os objectivos traçados pelas suas empresas de comunicação social, abriram as portas aos jovens saídos recentemente das universidades mas, não só, também a alguns amigos muitos deles sem qualquer tipo de preparação e formação, combinaram com eles contratos precários ou descartáveis ficando assim estes sujeitos a todo o tipo de controlo dos “bosses”.



Chegados a este ponto, em que o jornalismo já pouco investiga interesses instalados com a independência e o rigor necessários, quase que seria de repensar se ele próprio não deveria começar a ser investigado e denunciado em termos de comportamento. Felizmente que há alguém que o vai fazendo através das novas tecnologias que por exemplo a internet vai possibilitando ou, mesmo através da literatura sem que no entanto estes consigam chegar ao grande público.



Os resultados da degradação estão à vista. Apesar da grande variedade de órgãos de comunicação social parece que todos caminham em sentido único, conquista de audiências a todo custo, receitas publicitárias, fomento de tráfico de influências, manipulação e mais grave ainda, desprezando já as regras mais básicas de uma democracia pluralista. Em alturas de crise económica mais se notam os seus propósitos e interesses particulares. Os “cães de guarda” do “mainstream” estão ferozmente à solta e são demasiado perigosos.


Os tempos actuais deveriam-nos fazer repensar o assunto, a bem do público, da democracia, do futuro e do desenvolvimento. Um jornalismo de referência precisaria de rigor e de grande poder financeiro para conseguir exercer a sua verdadeira função, sujeito a uma entidade abrangente e supra independente dos poderes económicos e políticos. Utopia? Talvez mas, ela nunca nos foi prejudicial ao contrário do que vamos lendo, ouvindo e vendo.

NÃO SE IMPORTA?

Já nem sequer vale a pena comentar a falta de isenção e pluralismo que grassa nas nossas televisões em termos de comentário político e económico. Quem está minimamente informado limita-se apenas a ouvi-los só para conhecer até onde vai o descaramento da maioria dos comentadores actuais. Perante este cenário, o público começa a crer que o caminho preconizado por estes “entendidos” na matéria é de sentido único. Falta-nos só conhecer o tipo de dividendos que esta gente colherá no futuro. Cá estaremos para ver.

Na última emissão de a “A Hora de Fecho” da RTPN, um dos jornalistas convidados era David Dinis editor de política do Diário de Notícias. A propósito da actualidade da semana, as Comemorações Oficiais dos 100 anos da República e a inauguração da Fundação Champalimaud, o jornalista no seu comentário enviesado, para além de querer destacar mais em termos de importância a inauguração da Fundação como projecto de futuro para o país do que o Centenário da República, direito de opinião que lhe assiste, não foi no entanto rigoroso e consequentemente errou ao afirmar que na inauguração marcaram presença todas as importantes forças políticas ao contrário do que aconteceu na Praça do Município.

Nas cerimónias do Município, apesar da ausência dos líderes do PSD e CDS, estiveram representadas todas as forças políticas com assento na Assembleia da República enquanto na inauguração da Fundação Champalimaud estiveram, o Presidente da República, o Primeiro-ministro e o líder do PSD Pedro Passos Coelho. Ou seja, o jornalista David Dinis do Diário de Notícias talvez não se apercebendo do seu preconceituoso comentário só já considera como representantes do povo português, o Presidente da República, o governo do PS e os partidos da oposição à direita deste. Tudo o resto devem ser resquícios da democracia a que não se deve dar grande importância. Escapa-se-lhes este tipo de pormenores tal a cegueira. O David Dinis tem também o direito de pensar assim mas há a referir que os telespectadores têm igualmente direitos, o de serem devidamente informados com rigor e isenção quando se trata de análise jornalística como é no caso desta emissão. Já não exigimos independência no seu comentário mas, nos dados e nos factos, sejam honestos.

terça-feira, outubro 05, 2010

A VERDADE DOS TONTOS


A crise não se limita apenas a ser económica, de momento a mais visível porque praticamente só os economistas e os senhores da finança são os detentores das grafonolas dos nossos tempos. Por agora coloquemos de lado as crises civilizacional, cultural ou de valores. A estas sucedem-se mais outras. A destacar ultimamente as crises de consciência e de memória.

Os tontos andam à solta sem que ninguém os trate ou lhes diga mesmo, “cuidado aquele tipo está com o cérebro gravemente danificado”. Estes tontos têm uma particularidade específica, querem eles, os tontos, fazer dos outros tolos.

Há gente para quem o país só tem seis meses de existência, pensam os tontos radicais, os tontos mais moderados são até capazes de estender o prazo à totalidade dos anos de governação de José Sócrates ou mesmo a todos os anos de governação socialista pós 25 de Abril não esquecendo o período do PREC, este o mais negro da nossa história que apesar da sua curta duração, segundo eles, ainda é responsável pela maioria dos nossos males. Para os tontos existe depois uma branca na nossa história e que respeita àqueles anos em que nem comunistas nem socialistas comandaram os destinos do nosso país. No entanto nos últimos dias puxaram pela sua fraca e pouca esclarecida memória e lá se lhes fez luz naqueles cérebros, lembraram-se de Manuela Ferreira Leite, chamam-lhe até a Srª Verdade. É verdade, ela até lhes responde quando a chamam por este nome. Ainda há dias quando a Srª Verdade saía da Assembleia da República questionada pelos jornalistas no sentido de comentar o estado actual da crise lá ia dizendo sobranceiramente “eu avisei, chamei à vossa atenção para a Verdade”.

Porque é a senhora conhecida por Srª Verdade? Não, não exageremos, não é só pelo simples facto de pertencer a um dos partidos que mais responsabilidades teve na governação do país, ela é a Srª Verdade porque disse que a gestão do Partido Socialista e de José Sócrates era ruinosa para o país e para os portugueses. Foi uma coisa que nunca ninguém ainda tinha dito, ou será mentira? Ou por outra, terem dito já tinham mas, não era bem isto. O que alguns já tinham dito era que esta política económica, tão defendida não só por José Sócrates mas sobretudo pelos simpatizantes do Partido da Srª Verdade que também foi governo, nos levaria mais tarde ou mais cedo ao desemprego e à miséria. A Srª Verdade foi a ministra das finanças em 2002 e, para fazer face ao défice do seu governo vendeu a rede fixa de telefones por 365 milhões quando o valor contabilístico daquele património do Estado estava avaliado em 2,3 mil milhões em que só as condutas valiam 800 milhões. O Estado tem sido delapidado ao longo de todos estes anos por toda esta gente. É verdade, não nos tratem como tolos.



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