quarta-feira, dezembro 08, 2010

A RETER

Está interessante a discussão das diversas reacções em relação aos documentos secretos revelados pela organização Wikileaks. Conforme as tendências políticas de cada analista, o fenómeno agora surgido assume leituras diferentes, tudo se resume ao compromisso político que cada personagem faz do assunto. Quem não está profundamente comprometido com qualquer estratégica política assiste com certa distância à discussão pública das consequências do caso tentando perceber o imbróglio de que muito se fala e que está a mexer com a diplomacia de muitos países. Deverão ser poucos os que se dão ao trabalho em consultar todos os documentos - por enquanto ainda públicos em sites não abatidos - revelados pela organização denunciante. A maioria dos minimamente interessados nas questões políticas limita-se a ler a triagem feita pela imprensa. Aos poucos se tiram algumas conclusões. Existem situações importantes de análise pela gravidade que acarretam à transparência exigida aos regimes democráticos mas igualmente pormenores insignificantes e óbvios que pouco adiantam ao que o comum dos cidadãos já sabia ou suspeitava que assim se passavam.

À partida parece que a organização Wikileaks desempenhou um papel de investigação que a generalidade da comunicação social se vem abstendo de fazer porque esta deixou de ser uma instituição independente e sujeita a pressões de vária ordem apesar de quem queira fazer crer que este caso se resume a uma atitude política.

Os mesmos que condenam a revelação dos documentos são aqueles que estão sempre prontos a aplaudir a divulgação de outros que colocam em causa os regimes suspeitos e violadores dos direitos humanos como a Rússia, o Irão, a Coreia do Norte ou a China. Para estes, as denuncias feitas pela Wikileaks não são mais do que um ataque aos EUA ou aos regimes democráticos do Ocidente como se eles fossem a pureza da humanidade. Não são só as ditaduras que violaram os mais elementares Direitos Humanos e fabricaram guerras e invasões originárias de grandes desgraças resultando em milhares de vítimas. Mais ainda, muitas das decisões que arrastaram os povos para tais hecatombes não foram porque estavam em causa a Democracia e a Independência dos nossos países, muitas das grandes atrocidades foram cometidas em prol de grandes negócios.

Os analistas anti-Wikileaks preocupam-se agora com o futuro do segredo e da confidencialidade das embaixadas, como diz Pacheco Pereira, “com a franqueza das conversas entre embaixadores, governantes e gente influente”. Sejam transparentes e sérios que os povos não os condenarão por isso, se têm muito para esconder e manter em segredo, há razões para duvidar que seja benéfico para a Democracia. Compreende-se que algumas estratégias que procurem salvaguardar os regimes democráticos impliquem negociações em segredo mas estas, após atingidos os fins, podem ser do domínio público porque, quando justas e correctas, nada as faz temer. A preocupação de muitos, é o muito do que foi divulgado não abona os tais defensores da Democracia em consequência dos seus procedimentos, é só isso.


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