quinta-feira, dezembro 23, 2010

UM CONTO DE NATAL

“Este País não é para velhos” não é uma ficção em cinema é uma realidade portuguesa. Enfrentar o ambiente de uma casa chamada de repouso para os mais idosos que, pelas mais variadas razões, ali têm que permanecer até ao final dos dias que lhes resta, é na sua maioria um soco no estômago que atinge as almas mais sensíveis. Aos nossos velhos damos-lhes uma sala despida de um prédio da cidade cheia de cadeiras com um televisor em fundo para o qual eles olham e não vêem nada. Um corredor liga os seus quartos onde dormem aos pares com os aquecedores desligados da corrente para que se poupe energia e assim os seus proprietários rentabilizem mais do que os elevados alugueres que debitam por cada cabeça. Das janelas olha-se para fora e deparamo-nos com as traseiras decadentes de uns prédios onde vivem aqueles que também caminham para a velhice. Não há luz do sol que ilumine os nossos velhos, não existem espaços arejados e agradáveis onde eles possam nem que por breves momentos viver um ambiente tranquilizador e sereno. Ali estão abandonados só porque têm fracos recursos e já nada têm para dar. A sua companhia resume-se à prestação profissional de uns funcionários miseravelmente pagos pela generalidade dos exploradores da maioria dos lares da terceira idade do nosso país.

Dizem-nos que tudo está devidamente legislado, que tais lares são habitualmente alvo de inspecções por entidades especializadas. É verdade, quem legisla sabe que nunca viverá uma situação idêntica à dos nossos pobres velhos. Governam no sentido de nunca ter que passar pelo mesmo. Está tudo legislado, está tudo a ser tratado. Metem nojo, metem raiva.




Powered by Blogger

  • A MEMÓRIA QUE NÃO SE APAGA