domingo, fevereiro 13, 2011

A MOÇÃO CENSURADA

O Bloco de Esquerda anunciou esta semana a apresentação de uma Moção de Censura ao governo para daqui a um mês. Para além da estupefacção generalizada, a ideia desta Moção foi censurada pela generalidade dos observadores políticos inclusive por alguns sectores simpatizantes do próprio BE. Da esquerda à direita parece que todos criticam a sua oportunidade. A esquerda porque teme que a sua aprovação faria cair o governo e que daí resultasse a tomada do poder pelo partido de Passos Coelho, a direita porque para além de não querer “embarcar” em movimentações da chamada extrema-esquerda, teme os tempos actuais para assumir a governação do país em razão de uma provável representação política parlamentar minoritária e das circunstancias económicas muito difíceis a que estaria sujeita para comandar o destino próximo do país.

Pondo de parte a razão da estratégia que levou os dirigentes do Bloco de Esquerda a lançar esta Moção de Censura ao governo de José Sócrates, a ideia teve para já o mérito em demonstrar uma vez mais os aspectos cínicos e podres do nosso sistema político.

Os partidos na oposição não se cansam de criticar a acção governativa deste governo socrático, destacam a sua grande irresponsabilidade governativa que trouxe o país à crise em que nos encontramos e no entanto consideram que ele se deve manter em funções até que outras circunstâncias mais convenientes exijam a mudança. Afinal de contas concluímos que tão irresponsável, incompetente e interesseiro é o governo como é a oposição.

A vida dos portugueses piora dia após dia, desvanece-se cada vez mais a esperança para que melhore nos próximos anos e parece que afinal ninguém tem pressa para que assim não seja. Todos jogam conforme as suas conveniências e interesses. Estabilidade é a palavra de ordem do actual sistema. Soletra-a José Sócrates para justificar condições de governação, di-la também o Presidente da República, Cavaco Silva, quer este comente um qualquer momento político nacional ou mesmo um internacional como a situação no Egipto. Estabilidade é o que exigem aqueles que não vivem as dificuldades comuns dos cidadãos injustamente espoliados. É natural, quem vive bem procura por todos os meios manter a estabilidade, a sua estabilidade.

Qualquer moção de censura contra o estado actual da situação é sempre bem-vinda, venha ela de onde vier e de quando vier. Não há que temer, a direita sabe que a esquerda não governará nos próximos anos e esta, por outro lado, tem que compreender de uma vez por todas, que é preciso acabar com o mito das virtudes de que se arvoram os defensores do sistema neo-liberal. Como? Deixando-os governar segundo os seus princípios até que a grande maioria perceba definitivamente que com eles se chegará ao caos rapidamente. Talvez depois disso as coisas possam mudar para melhor. São esses os tempos que precisamos viver urgentemente. A estabilidade que nos é exigida é a de continuarmos a marcar passo sobre o lamaçal já deveras chafurdado. Todas as moções de censura deveriam ser apoiadas. E aprovadas.



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  • A MEMÓRIA QUE NÃO SE APAGA