sábado, maio 28, 2011

SER OU NÃO SER IMPORTANTE


Foi muito interessante verificar as reacções à forma como foi preso e exposto ao público o chefe do FMI Dominique Strauss-Khan detido por suspeitas de violação a uma empregada de um hotel nova-iorquino. É curioso analisar os vários tipos de comportamentos da opinião pública. As argumentações e teorias da conspiração de que foi alvo DSK segundo os seus simpatizantes, ou a barbaridade cometida a uma humilde e indefesa empregada doméstica segundo os seus adversários políticos. Cada um julga o caso consoante as suas simpatias o que, diga-se, nunca foi lá muito aconselhável. Destaque-se até que ponto as pessoas reagem aos seus interesses pessoais e descuram permanentemente o interesse colectivo. Em termos gerais quem é simpatizante da área politica de DSK considerou também decadentes e próprias de um farwest as imagens divulgadas pela comunicação social. Por outro lado, os seus inimigos, sobretudo os não socialistas, não se cansaram de elogiar o comportamento e eficiência da justiça americana nestes casos da detenção e julgamento de um qualquer cidadão seja ele rico ou pobre e, aproveitar a oportunidade para nos vender uma América justa. Todos gostam de julgar antes que decidam os juízes e sempre conforme mais lhes convém e conforme as suas próprias convicções. Nem uns nem outros discutiram antes seriamente e com profundidade como as autoridades em qualquer parte do mundo devem actuar nestas situações estejam nelas envolvidas gente desconhecida ou gente famosa. Ninguém considera se será justo, correcto ou eficiente expor um réu sobre o qual inicialmente apenas recai uma acusação e até que seja julgado poder tratar-se de um presumível inocente. Foi preciso que um VIP estivesse envolvido numa situação destas para que as opiniões de gente igualmente importante se manifestasse revoltada com os acontecimentos. Não é justo.


terça-feira, maio 24, 2011

MOLHO DE BRÓCULOS


Os socialistas espanhóis de Zapatero e os democratas cristãos alemães de Angela Merkl foram os grandes derrotados nas eleições regionais dos seus países no último fim-de-semana. O que têm de comum? Ambos estão no poder. O que quererá isto dizer? Tão simplesmente que o poder nos diversos países europeus sejam lá eles da esquerda moderada ou da direita conservadora não satisfazem os seus povos. Quais serão as razões do descontentamento dos eleitores? Os poderes políticos olharam para dentro de si, colocaram as suas ideologias de parte e fizeram depender as suas decisões da pressão de outros poderes mais influentes e manipuladores das sociedades. O discurso mainstream limitou-se às áreas económicas e virado apenas para os interesses das empresas, dos accionistas e dos grandes grupos económicos que nunca abdicaram de pressionar, chantagear e até comprar a classe política com poderes legislativos. São inúmeros os exemplos. De parte ficaram as pessoas, no fundo, as únicas capazes de em conjunto desenvolver as sociedades, bastando para isso fazer prevalecer direitos condignos, organização, transparência e justiça. A esquerda comunista corrompeu-se internamente e muito dificilmente conseguirá um dia ressuscitar, a esquerda moderada e a social-democracia abdicaram dos seus princípios e permitiram a entrada nas suas fileiras dos mais variados escroques e oportunistas. Demorarão muitos anos até que voltem a recuperar a sua imagem original, resta saber se ainda irão a tempo e se serão capazes e competentes para o fazer. Sobram a direita e os seus acólitos mas esses, por muito que se queira desmentir ou demonstrar o contrário, sempre foram poder e os resultados das suas políticas estão à vista. O seu caminho leva-nos sempre a edificação de sociedades profundamente injustas, simplesmente porque apenas zelam por quem tem mais poder. Os próximos anos vão certamente ser muitos difíceis senão mesmo trágicos. A Europa está a desfazer-se porque os políticos deixaram de existir. Como sempre manda o mundo financeiro e o resultado foi também como sempre, uma desgraça. Não vai ser diferente.



domingo, maio 15, 2011

O RUMO DA COISA



Se formos bons observadores somos capazes de vislumbrar as principais razões da nossa calamidade. Mesmo que sendo inúmeras, profundas e sem fim porque sem solução fácil, algumas delas são demasiado básicas e de solução simples. Para tal será suficiente viver e compreender o nosso dia-a-dia. Diríamos que talvez nos bastasse implementar uma normativa com uma dúzia de regras obrigadas a um cumprimento rigoroso por parte de todos, de tal forma que não se limitassem no seu conjunto à publicação das mesmas numa qualquer Constituição plena de letra morta e cheia de palavreado bem-intencionado mas na sua essência com susceptíveis artimanhas propositadamente ali colocadas que só alguns doutores quase que auto-nomeados são capazes de decifrar e decidir sobre a sua correcta ou não aplicação. Quando o Presidente da nossa República, o Chefe Supremo da Nação, tem necessidade em determinadas situações enviar para o Tribunal Constitucional leis aprovadas pelo Parlamento com o intuito de esclarecer as suas dúvidas em relação à sua legalidade, das três uma, ou o Presidente é burro e não percebe o que ali está ou, a Constituição é de difícil compreensão ou, a lei aprovada é indecifrável. A questão reside exactamente aqui, as normas legislativas deverão ser simples e sobretudo entendíveis por qualquer um, inclusive por qualquer analfabeto tão só porque as leis são feitas para todos. É pois necessário que todos entendam os seus deveres e as suas obrigações. A partir daqui qualquer país pode decidir o rumo que mais lhe interessa.



Até hoje nunca ficou demonstrado que nenhum povo na sua essência quer menos do que o seu bem-estar o que pressupõe viver numa sociedade profundamente justa, democrática e participativa, feliz e desenvolvida. As leis devem por isso apontar no sentido de evitar as injustiças, a arbitrariedade, a infelicidade e o subdesenvolvimento. A crise de Portugal não se limita ao seu défice financeiro ou económico, este só existe porque o nosso país tem sistematicamente falhado na aplicação de regras que promovam a transparência, a educação, a formação e a sua construção. É certo que não somos únicos, nos tempos que correm, são cada vez mais os países que tal como nós se vão sentindo perdidos e sem saber que caminhos seguir. Nações que no passado foram o farol do princípio de sociedades livres e desenvolvidas, sobretudo na nossa Europa, começam a desvanecer-se. Quando em tempos idos os seus povos acalentavam momentos de grande esperança no futuro, vivem hoje permanentemente assustados. E o caso não é para menos.



As leis e a sua aplicação relacionadas com a educação, a saúde, a justiça, o trabalho, a solidariedade e segurança social e os recursos naturais não podem ser levianas. Devem estar sujeitas a uma discussão profunda e abrangente, práticas na sua execução mas sobretudo, devem ter em conta o bem-estar da generalidade das sociedades e não de grupos que olham para tudo como uma oportunidade de negócio. Com estes pressupostos a partir destes princípios é possível compreender porque até aqui o caminho tem sido errado e porque falhámos tanto. Aconteceu porque os Estados alimentaram e se envolveram nos negócios, porque os Estados quiseram ser empresas, porque as empresas se apropriaram dos Estados e porque os homens que tomaram conta dos destinos dos Estados antes quiseram tomar conta do seu próprio destino e da sua própria vida. Para a maioria das pessoas tudo isto foi ruinoso. Foram poucos os que se salvaram e muito bem. E são estes que nos dizem insistentemente que nos querem salvar tomando conta de nós. E há quem ainda acredite muito neles.



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  • A MEMÓRIA QUE NÃO SE APAGA