segunda-feira, dezembro 27, 2010

O JOGO DO MONOPÓLIO E DA PIRÂMIDE

Crê-se que Charles Darrow foi quem inventou nos anos 30 nos Estados Unidos um jogo de mesa que entusiasmou gerações nas décadas seguintes. Os jovens reuniam-se em casa um dos outros para jogar ao Monopólio. As regras eram simples, havia notas que simbolizavam o dinheiro, um tabuleiro onde estavam representados imóveis importantes de várias cidades assim como algumas indicações a cumprir pelos vários jogadores, uns dados que eram lançados e que definiam a sua sorte assim como o caminho a percorrer por cada um e por último, várias peças em plástico que conforme as possibilidades monetárias e certas negociações eram adquiridas por cada um dos intervenientes e que serviam como que títulos de propriedade privada. A finalidade do jogo era simples, conforme ele decorresse, sairia como vencedor aquele que conseguisse monopolizar todos os títulos de propriedade levando à falência os restantes jogadores mas sem que alguém saísse magoado.

Com a idade os jovens foram percebendo que na vida adulta também se jogava mas com dinheiro, imóveis e títulos de propriedade reais. O resultado assemelhava-se ao efeito de uma pirâmide em que os mais ricos estavam no topo e os mais pobres constituíam a sua base. Como o jogo era mais sério havia que estabelecer regras para que ele pudesse ser jogado. Os Estados definiam essas regras às quais os jogadores estavam submetidos. Apesar das diferentes camadas que constituíam a pirâmide e da prática de graves injustiças no seio dela, havia um certo controlo que permitia a sua sustentabilidade na base de constantes negociações, lutas e conquistas de parte a parte. Este jogo de adultos tinha um nome, Capitalismo.

Tal como os jovens que se cansavam depois de muitas horas a jogar o Monopólio, a partir da década dos anos 80 do século passado também os adultos se cansaram do Capitalismo e resolveram alterar o seu regulamento sem no entanto acabar com o jogo. Queriam-no agora mais sofisticado. Sem regras, sem obrigações e sem Estados a controlá-lo. A partir daí só as estratégias de cada um passariam a contar. Completamente livres de amarras, segundo os teóricos do novo jogo, o mercado, o negócio e as possibilidades de cada um só por si bastariam para ditar o futuro de todos. O novo jogo deixou de se denominar por Capitalismo e assumiu um novo nome, Neo-liberalismo. A sua finalidade e objectivos consiste em levar os jogadores mais poderosos a dominar todos os outros, alargando cada vez mais a base da pirâmide e dos vencidos. O jogo termina quando já nada restar. Um jogo que já está a magoar.


sexta-feira, dezembro 24, 2010

IMPARCIAL

O trabalho suplementar prestado pelos funcionários públicos durante o ano de 2010 mas que seja pago a partir de Janeiro ficará sujeito a cortes.

A distribuição dos lucros em 2010 aos accionistas da PT que deveria ser feita em 2011 foi antecipada para este ano a fim de evitar o pagamento de impostos mais gravosos conforme o definido pelo Orçamento de Estado para 2011.

Aqui estão duas decisões em que o governo Sócrates foi imparcial em relação a estas medidas. Não interferiu no procedimento levado a efeito pelos accionistas da PT apesar de lesivo para Estado em muitos milhões de Euros mas que, segundo o governo, economistas e analistas defensores do sistema, caso o governo alterasse a lei, poderia no futuro e em consequência, para além de uma perda de confiança, levar as grandes empresas e investidores a uma fuga de capitais e investimentos no nosso país. Também o governo decidiu não antecipar o pagamento do trabalho suplementar aos funcionários públicos que serão assim penalizados através dos impostos mais gravosos do próximo ano quando, por uma questão de justiça, contratualmente deveriam receber conforme o ano a que se reporta o trabalho executado. O governo preferiu manter a sua "isenção" e deixar correr tudo conforme a normalidade de sempre. O Estado não receberá da parte dos accionistas mas em compensação rentabilizará o seu orçamento à custa dos funcionários públicos. Assim ninguém fugirá de Portugal, as grandes fortunas estarão sempre salvaguardadas e os pobres nunca terão o dinheiro suficiente para atravessar as nossas fronteiras. Ficamos juntos até para que uns suportem os outros.

Que os ricos paguem a crise é slogan caduco, até porque eles nunca a pagaram, esta frase famosa dos movimentos de esquerda, nunca passou disso mesmo, de palavra de ordem. As crises sempre foram pagas pelos mais fracos e são estes que as vão continuar a pagar e a suportá-las. Aqui se comprova de novo que a justiça é cega. Sobretudo a portuguesa. Não vê estas e outras injustiças.


quinta-feira, dezembro 23, 2010

UM CONTO DE NATAL

“Este País não é para velhos” não é uma ficção em cinema é uma realidade portuguesa. Enfrentar o ambiente de uma casa chamada de repouso para os mais idosos que, pelas mais variadas razões, ali têm que permanecer até ao final dos dias que lhes resta, é na sua maioria um soco no estômago que atinge as almas mais sensíveis. Aos nossos velhos damos-lhes uma sala despida de um prédio da cidade cheia de cadeiras com um televisor em fundo para o qual eles olham e não vêem nada. Um corredor liga os seus quartos onde dormem aos pares com os aquecedores desligados da corrente para que se poupe energia e assim os seus proprietários rentabilizem mais do que os elevados alugueres que debitam por cada cabeça. Das janelas olha-se para fora e deparamo-nos com as traseiras decadentes de uns prédios onde vivem aqueles que também caminham para a velhice. Não há luz do sol que ilumine os nossos velhos, não existem espaços arejados e agradáveis onde eles possam nem que por breves momentos viver um ambiente tranquilizador e sereno. Ali estão abandonados só porque têm fracos recursos e já nada têm para dar. A sua companhia resume-se à prestação profissional de uns funcionários miseravelmente pagos pela generalidade dos exploradores da maioria dos lares da terceira idade do nosso país.

Dizem-nos que tudo está devidamente legislado, que tais lares são habitualmente alvo de inspecções por entidades especializadas. É verdade, quem legisla sabe que nunca viverá uma situação idêntica à dos nossos pobres velhos. Governam no sentido de nunca ter que passar pelo mesmo. Está tudo legislado, está tudo a ser tratado. Metem nojo, metem raiva.




quinta-feira, dezembro 16, 2010

DIREITO AOS RESTOS

Ficou registado nas imagens. Cavaco Silva, Presidente da República portuguesa, ao lado de Assis Ferreira, administrador do Casino Estoril. Não estavam a jogar nas Slot Machines, no Bacará, na Banca Francesa, no Black Jack, na Roleta e também não estavam a jogar sentados numa mesa de Póquer. Num ambiente, onde geralmente à vista daqueles que desconhecem aquele meio, se faz gala em ostentar o luxo mas onde se fomenta a miséria de muitas famílias, estas duas personagens promoviam a realização de uma acção de solidariedade em favor da pobreza. A iniciativa ficou designada como “Direito à Alimentação”, consiste na aprovação em autorizar o aproveitamento dos restos de comida dos restaurantes para alimentar os mais pobres. Cavaco Silva, Presidente de um Estado de Direito, considera um Direito as pessoas alimentarem-se com restos de comida fornecidos pelos restaurantes. Cavaco não percebe e também não raciocina, razões que o levam a embarcar neste tipo de disfarce da miséria própria dos países do terceiro mundo.


quarta-feira, dezembro 08, 2010

A RETER

Está interessante a discussão das diversas reacções em relação aos documentos secretos revelados pela organização Wikileaks. Conforme as tendências políticas de cada analista, o fenómeno agora surgido assume leituras diferentes, tudo se resume ao compromisso político que cada personagem faz do assunto. Quem não está profundamente comprometido com qualquer estratégica política assiste com certa distância à discussão pública das consequências do caso tentando perceber o imbróglio de que muito se fala e que está a mexer com a diplomacia de muitos países. Deverão ser poucos os que se dão ao trabalho em consultar todos os documentos - por enquanto ainda públicos em sites não abatidos - revelados pela organização denunciante. A maioria dos minimamente interessados nas questões políticas limita-se a ler a triagem feita pela imprensa. Aos poucos se tiram algumas conclusões. Existem situações importantes de análise pela gravidade que acarretam à transparência exigida aos regimes democráticos mas igualmente pormenores insignificantes e óbvios que pouco adiantam ao que o comum dos cidadãos já sabia ou suspeitava que assim se passavam.

À partida parece que a organização Wikileaks desempenhou um papel de investigação que a generalidade da comunicação social se vem abstendo de fazer porque esta deixou de ser uma instituição independente e sujeita a pressões de vária ordem apesar de quem queira fazer crer que este caso se resume a uma atitude política.

Os mesmos que condenam a revelação dos documentos são aqueles que estão sempre prontos a aplaudir a divulgação de outros que colocam em causa os regimes suspeitos e violadores dos direitos humanos como a Rússia, o Irão, a Coreia do Norte ou a China. Para estes, as denuncias feitas pela Wikileaks não são mais do que um ataque aos EUA ou aos regimes democráticos do Ocidente como se eles fossem a pureza da humanidade. Não são só as ditaduras que violaram os mais elementares Direitos Humanos e fabricaram guerras e invasões originárias de grandes desgraças resultando em milhares de vítimas. Mais ainda, muitas das decisões que arrastaram os povos para tais hecatombes não foram porque estavam em causa a Democracia e a Independência dos nossos países, muitas das grandes atrocidades foram cometidas em prol de grandes negócios.

Os analistas anti-Wikileaks preocupam-se agora com o futuro do segredo e da confidencialidade das embaixadas, como diz Pacheco Pereira, “com a franqueza das conversas entre embaixadores, governantes e gente influente”. Sejam transparentes e sérios que os povos não os condenarão por isso, se têm muito para esconder e manter em segredo, há razões para duvidar que seja benéfico para a Democracia. Compreende-se que algumas estratégias que procurem salvaguardar os regimes democráticos impliquem negociações em segredo mas estas, após atingidos os fins, podem ser do domínio público porque, quando justas e correctas, nada as faz temer. A preocupação de muitos, é o muito do que foi divulgado não abona os tais defensores da Democracia em consequência dos seus procedimentos, é só isso.


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  • A MEMÓRIA QUE NÃO SE APAGA