SEMEAR VENTOS E COLHER TEMPESTADES

Parece estar tudo escandalizado com a entrada da Polícia Judiciária na redacção do jornal 24Horas. Mas porquê? Devem ou não os jornais também estar sob investigação quando há fuga do segredo de justiça? Pretendemos ou não que, investigando todos os suspeitos envolvidos se ponha fim à situação, caótica e já escandalosa, até que se descubram os verdadeiros responsáveis? Ficaria o país e a comunicação social chocados se as autoridades a mando da Procuradoria Geral do Estado entrassem na casa do cidadão comum para levarem o seu computador e analisar o respectivo disco rígido? Deve a comunicação social estar acima da lei? Os jornais, rádios e televisões não são por acaso nos tempos que correm produtos de mero negócio que, muitas das vezes na procura de audiências e consequentes vendas, utilizam sem quaisquer tipo de escrúpulos todos os meios para atingir os seus próprios fins? No caso concreto do escândalo da pedofilia da Casa Pia, os media de uma maneira geral não chegaram a cometer graves erros e mesmo muitas das vezes, a meter nojo e a ultrapassar a deontologia jornalística, já para não falar de outros casos?
O comportamento da comunicação social hoje em dia já não é o mesmo do que aquele a que se propôs nos seus primórdios e que, levou as sociedades livres a criar-lhe os meios de protecção na procura da sua isenção, deontologia, informação e defesa dos cidadãos. Tudo mudou e tudo está diferente, o dinheiro parece afinal comandar a vida. Vai já sendo tempo para que a corporação dos jornalistas perceba o fenómeno e que mais tarde ou mais cedo aceite a revisão que se impõe ao seu estatuto privilegiado. É grave que tal aconteça? Pois é. Não optaram pelos caminhos do negócio? Então agora sujeitem-se e oxalá ganhem muito dinheiro com o espectáculo. Não queiram é ser diferentes que outras empresas e outros cidadãos.