NADA É POR ACASO
A Entidade Reguladora da Comunicação Social após investigação e análise feita por si, concluiu não ter encontrado indícios de governamentalização no caso dos incêndios de verão nos noticiários da RTP tal como denunciou em artigo de opinião no jornal “O Publico” Eduardo Cintra Torres. Hoje mesmo numa atitude corporativa e muito própria dos jornalistas portugueses lá veio em editorial o Sr. José Manuel Fernandes, director do respectivo jornal, defender o seu colaborador Eduardo Cintra Torres.
Estas duas personalidades, fazem parte de um grupo cujo Mestre dá pelo nome de José Pacheco Pereira, defensor da privatização total dos órgãos de comunicação social do Estado. Na sua óptica existe sempre o perigo de os governos através de vários subterfúgios manipularem a informação dada por esses órgãos. Para eles, parece que a informação prestada pelas empresas privadas é um garante de isenção, rigor e qualidade. Nunca nos seus artigos de opinião questionaram a pressão dos grupos económicos e a defesa dos seus interesses nos media privados nem mesmo as condições de trabalho, a formação e a precariedade a que estão sujeitos os profissionais que neles trabalham. Para nosso bem e da democracia espero bem que os seus intentos nunca se venham a concretizar, felizmente que em certos aspectos faz-nos bem ser parte integrante da Comunidade Europeia onde este tipo de política por enquanto não tem pernas para andar senão, um dia destes alguma cabeça decisória deste país poria em prática este tipo de solução com graves consequências. Por enquanto vamos tendo a possibilidade, caso não nos agrade, de nós próprios mudarmos a informação da RTP de 4 em 4 anos assim como ter o direito de discutir e analisar se é ou não muito mais perigoso para a sociedade democrática e evoluída que uma “arma” tão poderosa e influente como a da comunicação social esteja à mercê sabe-se lá de quem.
Esta “guerra” entre o Sr. E.C.T., “O Publico” e a RTP já vem de longe e a mesma surge sempre nas alturas em que as televisões privadas enfrentam algumas crises em termos económicos ou de audiências sobretudo a SIC do militante numero 1 do PSD, Sr. Francisco Pinto Balsemão. Em 2001, antes da subida ao poder de Durão Barroso, a "Impresa" que detem a SIC enfrentava já uma grave crise após a saída do seu Director Geral, Emídio Rangel em consequência do sucesso alcançado sobretudo pelo canal privado concorrente TVI. Não foi por acaso que o Sr. Balsemão se empenhou na campanha eleitoral de Durão Barroso sendo até o penúltimo orador do último comício da campanha do PSD na esperança de ver o governo mudar de mãos e consequentemente mudar também a politica governativa para a comunicação social. Durão Barroso venceu e logo no início da sua acção governativa as mudanças na RTP marcaram a sua agenda politica sendo mesmo o seu principal “cavalo de batalha” como se a situação da RTP fosse o problema principal da sociedade portuguesa naquela altura. Para quem analisou mais atentamente a situação ficou sempre com uma certa suspeita de que havia uma factura a pagar pela ajuda prestada pelo “amigo” Balsemão na campanha eleitoral de Durão Barroso. Foi então que todas as “baterias” seriam apontadas para o afastamento da Direcção de informação e de programas da RTP liderada por Emídio Rangel, um perigo em termos de procura de audiências na guerra contra a SIC. Dessa campanha anti RTP faziam parte, bastará consultar-se os arquivos da imprensa da altura, os Srs. Eduardo Cintra Torres e José Manuel Fernandes. As mudanças desejadas pelo grupo foram conseguidas, o director do Público chegou mesmo a ser depois um dos novos comentadores dos telejornais da RTP e o Sr. E.C.T. para além da sua participação assídua nos debates do programa “Prós e Contras”da RTP, um dos elementos convidados por Morais Sarmento para fazer parte de uma equipa responsável pelo estudo de um projecto para o Serviço Publico de Televisão. Esta mesma comissão chegou a defender a privatização total do canal 2 da RTP só que, graças à reacção de algumas franjas intelectuais da sociedade portuguesa a juntar ao perigo que representaria para a SIC o aparecimento no mercado de mais um canal concorrencial privado de televisão, a ideia não avançou, quem sabe se não com a preocupação manifestada junto do seu lobby pelo Sr. Balsemão. Teoria da conspiração? Não acredito em bruxas mas que as há…há.
Entretanto a RTP em crise lá se foi reestruturando, rescisões de contratos com muitos dos seus profissionais mais experientes, redução de orçamentos na sua programação, alienação da sua parceria com a Sporttv e consequentemente, nos direitos de transmissão de eventos desportivos de grande audiência como mais tarde se veio confirmar no futebol da Primeira Liga, na maioria dos jogos da Liga dos Campeões, na fase final do Mundial de Futebol na Alemanha e agora recentemente na próxima época da Formula 1 e na fase final do Europeu de Futebol em 2008. Estavam criadas as condições para que a SIC aproveitasse assim também para reduzir os seus investimentos sobretudo a nível dos seus profissionais, dispensando-os e apoiando-se em estagiários e em mão-de-obra barata para além de se limitar a uma fraca produção nos seus programas, com menos lantejoulas. É claro que este tipo de politica mais tarde ou mais cedo tem custos ainda mais elevados mas em Portugal teima-se em não compreender este fenómeno sobretudo estes modernos gestores de empresas. Assim, e graças à fraca qualidade pelos serviços prestados pelas estações privadas, a RTP degrau a degrau voltou entretanto a subir sem recorrer no seu “prime time” a uma programação “pimba” e, para espanto de todos, o seu Telejornal passou a ser líder de audiências. Consequências, “ai meu Deus o que é isto” e lá voltaram os artigos de opinião contra a RTP do Sr. Eduardo Cintra Torres e as preocupações manifestadas pelo seu director em relação à deliberação tomada pela Entidade Reguladora da Comunicação Social.
O que o publico precisa é que os jornalistas e os chamados líderes de opinião informem e critiquem com senso, imparcialidade, verdade e honestidade tal como define o seu dever deontológico caso contrário, seria bem melhor para todos nós que se dedicassem a outro tipo de actividade.
A nível de informação o panorama nacional é bastante fraco e preocupante. Tudo é feito na defesa de interesses obscuros para além da pouca qualidade informativa patenteada por todos os órgãos de informação em Portugal quer sejam eles do Estado ou não. Era bom que os críticos de televisão escrevessem mais no sentido de nós percebermos porque é que os responsáveis dos blocos informativos das nossas estações de televisão, por exemplo, não abrem os seus noticiários mais importantes das estações quando na Índia ou em Bagdad acontecem atentados que vitimam cerca de 200 pessoas ao contrário do que fariam se tal sucedesse aqui na vizinha Espanha. Porque é lá longe? E se fosse em S. Francisco? Porque as 200 pessoas que morrem na Europa ou nos Estados Unidos são mais importantes que 200 indianos ou iraquianos? Compreende-se que não consigam ser honestos porque a honestidade dificilmente enriquece alguém mas tentem pelo menos ser um pouco mais sérios.
1 Comments:
Confesso-me apavorado com o seu post. Só falta assumir-se como detentor da verdade absoluta e impôr uma espécie de censura prévia, em que a aprovação de determinada notícia ou comentário deve passar pelo crivo da sua alta qualidade intelectual. Em boa verdade, nada disso surpreende: é o país que temos e os dependentes do regime que noa calhrama na rifa. Pretender que a RTP não vive o seu pior momento de manipulação política e jornalística já não é boa vontade, é mero seguidismo. Se não basta atentar à abertura de telejornal da tarde de hoje (vinte minutos dedicados a essa montra de velharias represnetada pela reunião dos partidos socialistas europeus, sem qualquer postura crítica e reproduzindo os argumentos do dono).
Passe bem.
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