quarta-feira, abril 11, 2007

O NAUFRÁGIO

O caso da Universidade Independente é um dos exemplos mais conclusivos para percebermos como funciona Portugal. A sociedade liberal é contra o Estado. Só vê virtudes e solução para todos os males na iniciativa privada. Aos poucos a história vai demonstrando que não é bem assim mas parece que ninguém quer ver. Não quer compreender que certos sectores da vida social não são negócio ou pelo menos não deveriam ser. A saber, os casos da saúde, da educação já para não falar no da informação. São bens essenciais da vida, de progresso e do bem-estar. Na saúde, apesar de tudo, e depois de inúmeros casos sucedidos nos hospitais privados parece que só nos hospitais do Estado os doentes depositam alguma confiança sobretudo graças ao seu pessoal qualificado. E só não funcionam melhor porque há interesses em defesa das instituições privadas que limitam o funcionamento e a qualidade dos hospitais públicos. No ensino superior e, se exceptuarmos o caso da Universidade Católica, fica-se com a sensação, depois dos escândalos vividos com a Moderna e a Independente, que um “canudo” só tem alguma credibilidade quando conseguido através das universidades estatais. Tanto nos hospitais ou nas universidades públicas ainda se vão mantendo os melhores profissionais apesar de mal tratados na maioria das vezes. A nossa formação é atrasada e deficiente e a nossa saúde está gravemente debilitada. Claro que o Estado não está isento de culpas para não dizer que ele é mesmo o único culpado pela situação vivida. O Estado gere mal os seus bens, muitas das vezes até ao caos absoluto e propositadamente para dar assim lugar aos privados que por sua vez e graças à falta de fiscalização adequada e de princípios também presta maus serviços ao país explorando trabalhadores e servindo deficientemente os utentes. O Estado deveria ter a exclusiva responsabilidade para que tudo funcionasse convenientemente quer nas suas próprias instituições quer nas privadas a quem autoriza determinadas funções quando Ele próprio abdica de as gerir. Graças aos diversos governos que os portugueses elegeram após o 25 de Abril de 74 que o Estado foi responsável pela nomeação dos inúmeros gestores das empresas publicas, a maioria das quais obedecendo a critérios obscuros, coniventes e partidários pondo de lado a capacidade profissional e a responsabilidade daqueles. O bem público foi delapidado ao longo dos anos com diverso tipo de decisões no mínimo incompetentes para não dizer fraudulentas por parte de certos gestores da era moderna e a quem nunca foram sacadas responsabilidades e nem sequer sujeitos a investigação. Assim, ao longo dos anos foi-se criando a ideia de que o Estado não é capaz em vez de se discutir com seriedade e objectividade “os porquês” de tamanho caos. Entretanto os tais gestores das empresas publicas foram saltitando de “poleiro em poleiro” e “sacando” chorudas indemnizações sempre que mudavam de “poiso” para além de garantirem um futuro risonho nas empresas privadas graças aos favores prestados em prejuízo do erário publico enquanto seus responsáveis e beneficiando os negócios e as empresas do seu circulo de “amiguinhos”. É assim que se funciona em grande escala em Portugal, não tenhamos grandes dúvidas quanto a essa matéria. Não queiram os políticos sacar responsabilidades aos trabalhadores portugueses, transmitindo-lhes a ideia de que no fundo são uns privilegiados e que os direitos que adquiriram foi um erro tremendo do sistema e que agora há que prescindir deles para garantir um futuro melhor. “Balelas”. Os trabalhadores portugueses são os mesmos que também trabalham lá fora em países mais desenvolvidos e profundamente mais democráticos e civilizados mas que não são geridos por gente desta “estirpe”. A gestão do nosso país, quer no sector público quer no sector privado, é uma verdadeira lástima. É um verdadeiro caso de policia. O essencial da questão não se põe em termos de privado ou publico como nos querem fazer crer meia dúzia de “cães de guarda” que escrevem nos jornais e falam nas televisões. Para além da falta de qualificação da grande maioria dos nossos gestores e governantes, o nosso problema assenta essencialmente na problemática da corrupção e a solução, para uma grande maioria dos nossos problemas, só passa exactamente por uma mega investigação de toda a gestão danosa do erário publico dos últimos 31 anos com a consequente punição dos seus responsáveis para que desta forma as futuras gerações aprendam a ser mais honestas e consigam ainda salvar Portugal. O problema é que o tempo vai escasseando para se evitar o “mundo cão”. A precariedade dos trabalhadores vai-se acentuando tal como os “tubarões” da nova economia pretendem para melhor reinar, o terror está instalado e a lei da sobrevivência levará a que muitos não denunciem as “manobras” engendradas pelos altos responsáveis das empresas e já nem sequer podem contar com a comunicação social porque também essa já está praticamente entregue aos “comerciantes” que nos vão entretendo com “fait divers”. Agora é Balsemão, proprietário da SIC, que trata com o líder partidário do maior partido da oposição de Portugal a privatização do principal canal público de televisão. Assim se gere o país.

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