domingo, junho 15, 2008

O ABANÃO

Bastaram 2 a 3 dias de boicote para o país começar a abanar. Muito já se escreveu sobre as não razões para a atitude dos camionistas e sobretudo sobre as ilegalidades das sua formas de luta. Os camionistas têm tantas razões de queixa como a generalidade dos portugueses e deveriam, tal como os outros, suportar os custos dos aumentos dos combustíveis. A única diferença é a de que a maioria dos cidadãos não tem outro remédio que seja pagar e calar enquanto que as empresas têm a possibilidade de debitar nos seus consumidores os custos de tais aumentos e daí não se compreender à primeira vista os porquês de tanta barulheira. As empresas de camionagem detêm em particular ainda mais um trunfo de peso que é o de recusarem prestar serviços essenciais à vida normal do país. Com a sua paragem o resultado esteve à vista de todos, os combustíveis começaram a falhar nos postos de abastecimento assim como os artigos de variadíssima ordem nas prateleiras dos supermercados e logo, a confusão e o medo começaram a instalar-se.
Enquanto durou a luta dos interesses da camionagem foi curioso acompanhar a opinião expressa por alguns habituais escribas da nossa praça. Os analistas, cronistas, líderes de opinião ou aquilo que se lhes quiser chamar, que com as suas opiniões vão alimentado de forma a garantir a sustentação do sistema que os mantém, começaram a ficar bastante agitados, mais do que o habitual, em relação a outras lutas que menos os perturbam. Desta vez, mesmo apesar dos seus vastos recursos para fazer frente às crises em relação à maioria da população, demonstraram maiores preocupações com a situação despejando toda a sua ira em cima dos representantes dos camionistas reivindicativos quase apelando nas entrelinhas às autoridades e ao governo a utilização urgente e imediata da força para pôr fim ao bloqueio criado. Um exemplo, Pacheco Pereira escreveu: “Impedir a circulação e bloquear estradas é ilegal, organizar piquetes que impedem com violência os camiões de passar é ilegal, e tudo isto é feito diante dos olhos dos agentes da GNR que passivamente assistem não se sabe bem para quê.”
Esta gente não se preopcupou, como seria sua obrigação, de friamente analisarem as profundas e imensas causas de todo o turbilhão que ameaça o seu sistema económico. Sentiu-se agora que simplesmente o que estava em causa era o combustível para encher os depósitos dos seus “popós” e, caso o problema se prolongasse, a comidinha em cima da mesa dos restaurantes apesar de terem o dinheirinho para os pagarem a preços mais elevados. Tal como diria o timoneiro chinês Mao Tsé-tung, o sistema e o modelo que defendem não passa afinal de um “ tigre de papel” que ao mínimo abanão se desmorona facilmente. Este conflito ameaçou agitar o modus vivendi desta gentalha e daí o seu desespero. A procissão ainda agora vai no adro. Quando a crise se tornar ainda mais profunda com consequências talvez dramáticas, não serão os bastante poderosos, cujos seus interesses estes cães de guarda ajudaram a alimentar manipulando de diversas maneiras a opinião pública, que lhes irão valer. Perante explorados e exploradores serão sempre vistos como verdadeira escumalha. Por agora são utilizados como fazendo parte daqueles pobres contratada para arruinar a outra parte dos pobres.
Foi também interessante verificar o comportamento dos partidos da oposição durante a paralisação dos camionistas. O seu silêncio, particularmente no caso do PSD, foi estranhamente e imensamente ensurdecedor. Chegou a pensar-se que toda a classe politica “laranja” se tinha ausentado do país para a Suíça para apoiar a selecção da Holanda que equipa da mesma cor e que está a praticar um excelente futebol. Só depois de desbloqueada a situação pelo governo PS, não interessa por agora saber de que forma e com custos, é que começaram a aparecer algumas vozes do maior partido da oposição a manifestar algumas sentenças criticas pouco ou nada sustentáveis e demagógicas tão só em relação à solução encontrada pelo governo como o fez Aguiar Branco num debate da RTPN. Se Manuela Ferreira Leite e Aguiar Branco são alternativa ao governo de José Sócrates estamos então definitivamente entregues à bicharada.

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  • A MEMÓRIA QUE NÃO SE APAGA