quarta-feira, março 11, 2009

A CRISE TEM MUSICA

Face à falência e aos índices de pobreza que a crise poderá causar, Cavaco Silva, o Presidente da Republica, fez esta semana um apelo bacoco com vista a um diálogo fraterno entre trabalhadores e patrões. Desde sempre e sobretudo nas fases politicas mais propícias à sua acção que as entidades patronais e a maioria dos gestores portugueses, visando a todo o custo apenas a sua facturação ou os lucros dos seus accionistas, procuraram através de várias estratégias, diminuir a força interventiva dos sindicatos, decidir o futuro das empresas unilateralmente, assumir actos de prepotência de vária ordem, oferecer débeis condições de trabalho, trocar pessoal mais reivindicativo mas mais qualificado e experiente por gente mais nova sem conhecimentos e formação adequada mas sujeita a qualquer tipo de condições. Só eles decidiram à margem de qualquer democratização saudável. Nunca foram capazes de perceber que o desenvolvimento sustentado de qualquer empresa em qualquer país exige em conjunto um esforço responsável, participativo e transparente entre gestores, patrões e trabalhadores. Nunca entenderam mas também parece que ninguém está interessado em perceber os porquês e os verdadeiros fundamentos da crise.
Eles continuam a ter o acesso exclusivo aos órgãos de informação para “explicar” o lado que lhes convém. São exactamente os mesmos que antes do colapso nos habituámos a ver por ali a elogiar as virtudes do sistema. São ainda os mesmos que agora temos que ver, ler e ouvir em relação às propostas de futuro que, com um ou outro remendo, assentam rigorosamente no mesmo de sempre.
A propósito das declarações de Cavaco Silva convém também ir percebendo o que a fraca generalidade da nossa classe política nos quer transmitir. Repare-se no que escreveu muito recentemente Pacheco Pereira um dos mais acérrimos defensores da economia neo-liberal:
“O que vou escrever vai por os cabelos em pé a muita gente. Mas nestes dias de crise mais vale ter emprego, mesmo que mau, desprotegido, sem direitos, precário, do que não ter emprego nenhum. E é por isso que o reforço dos direitos laborais, o aumento das contribuições sociais, a dificuldade de contratar a recibo verde, a penalização do trabalho “negro”, têm um enorme preço em deixar mais gente na miséria. Em teoria nada há de mais aceitável, na prática nada há de mais injusto, porque em nome de quem tem trabalho e direitos adquiridos, penaliza-se quem quer qualquer trabalho, porque não encontra um trabalho decente. Para além disso é ineficaz, porque muita gente que não aceitaria trabalhar em condições de precariedade está hoje disposta a fazê-lo em quaisquer condições. A necessidade obriga e a necessidade tem muita força."
É este o tipo de “sermão” que nos vão impingindo. Assustar para aceitarmos. Ainda ontem, também o economista Silva Lopes, muito levianamente sugeria para as câmaras de televisão a redução dos salários.
Cavaco Silva apela agora a um diálogo que no passado foi sempre rejeitado pelas entidades patronais. O propósito do diálogo agora sugerido por esta gente visa apenas enfraquecer ainda mais os mesmos de sempre com a redução da generalidade dos seus salários e o abdicar de direitos conquistados com sangue suor e lágrimas ao longo dos tempos. Os discursos estão a ficar seriamente perigosos.

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