domingo, julho 18, 2010

INSUSTENTÁVEL


Cavaco Silva às vezes mesmo que raramente não se limita a banalidades e até consegue dizer uma ou outra coisa mais acertada. Temos que concordar que o Presidente da República quando recentemente afirmou que o país estava insustentável não andou muito longe da verdade apesar de ele próprio ser também um dos maiores responsáveis pelo caos ao que o país chegou com as politicas que adoptou quando exerceu por muito tempo o lugar de primeiro-ministro. Investiu e reformou erradamente tal como aconteceu com os que lhe seguiram. O resultado das políticas neo-liberais que se iniciaram na era de Ronald Reagan e Margaret Tatcher alargadas ao mundo ocidental deram no que agora vamos vivendo e parece que a coisa não vai ficar por aqui, o que aí vem pode ser bastante negro. O mundo e sobretudo a Europa vão ter que mudar mas, por tudo aquilo a que vamos assistindo ainda no meio de uma paz podre, não se nos augura nada de bom sobretudo no nosso país, com poucos recursos, sem políticos capazes, com elevada taxa de empresários mal preparados e com uma classe trabalhadora sem formação adequada e pessimamente mal gerida e orientada, com uma educação bastante deficiente, um povo mal informado mas alienado e debaixo de um sistema de justiça deveras caótico. Diante este cenário e ao contrário de outros países mais bem preparados para cada um deles fazer por si perante a crise que se instalou, Portugal é certamente um dos que mais dificuldades enfrentará. Falar-se de uma redução de salários num país como o nosso não é comparável em termos de efeitos em relação aos países onde os ordenados são substancialmente mais elevados daí que de um momento para o outro a maioria da nossa população, confrontado com as medidas de austeridade que nos pretendem impor, poderá estar à beira da pobreza e miséria efectivas. A solução para evitar no futuro o agravamento das condições de vida dos portugueses e de subsistência do país existe, ela é radical e de difícil argumentação para que venha a ser aceite pelos cidadãos daí que nenhuma formação política da esquerda à direita tenha a coragem suficiente para a transmitir e lutar por ela. O sistema actual terá primeiro que estourar de uma vez por todas para depois então encontrarmos novos caminhos. É o que vai acontecer mais ou menos dia. Por agora a nossa classe política está na enfermaria tentando com curativos ligeiros tratar o cancro implacável. Olhamos o nosso dia-a-dia, na maioria das empresas onde trabalhamos deparamo-nos assiduamente com decisões de má gestão com carácter exclusivamente economicistas e incompetente, com a proliferação do amadorismo, elevados índices de desmotivação profissional, com ausência de condições de trabalho e entre uma resignação generalizada. Olhamos para a classe política e a desolação é ainda maior, o partido do governo perante as circunstâncias até gostaria talvez de nesta altura não ser governo, fá-lo de cabeça perdida e no meio de grandes trapalhices mas no entanto por vaidade e pelos benefícios que sempre resultam daí ambiciona continuar a ser poder. O maior partido da oposição que tem uma agenda política ainda mais danosa e anti-social para Portugal por agora não tem as condições para assumir responsabilidades de um país endividado à beira da falência e obrigado a pagar e prestar contas aos credores que agora aparecem vestidos de fraque. As restantes formações políticas não conseguem convencer as maiorias porque apesar de serem críticos do actual sistema insistem em estar dentro dele não querendo comportarem-se como um elefante dentro de uma loja de porcelanas. Limitam-se a ser pouco mais que sindicalistas no interior do Parlamento.

Ninguém quer ir a eleições, criam-se os argumentos convenientes, ou porque as últimas foram recentes ou porque são caras ou porque as presidências deste ano não o permitem. Todos vivem assustados, os políticos porque têm medo dos votos e nós próprios porque receamos pelos políticos que temos. Isto está insustentável.

1 Comments:

Anonymous A Monte said...

Parabéns! O seu post está perfeito!
Não sabemos o que nos reserva o futuro, mas temo que para a Europa os dias serão turbulentos, para Portugal, e por todas as razões que indicou serão piores.

5:23 da tarde  

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