domingo, outubro 10, 2010

PANFLETOS DE COMUNICAÇÃO

Já lá vão os tempos em que o público respeitava e acreditava no jornalismo. De uma maneira geral os jornalistas eram de uma classe respeitada e constituída na sua maioria por intelectuais que optaram pela profissão por gosto e dedicação. Hoje em dia os órgãos de informação e as suas redacções massificaram-se. Graças ao carácter nobre que o jornalismo foi assumindo ao longo dos anos, à sua visibilidade, influência e poder, à criação de cursos superiores relacionados nas universidades, os jovens viram aqui outras saídas profissionais para as suas vidas. Os grupos económicos, também eles, descobriram o filão do qual podem extrair alguns dividendos, para além dos financeiros, sobretudo os de influência junto de outros órgãos de poder.



Não há temática que não tenha ligado a ela um qualquer órgão de comunicação reconhecido como fazendo parte da actividade jornalística. Com a sua enorme propagação começou a ser mais difícil a verificação pelo público e pelas entidades competentes do cumprimento das regras mais elementares do jornalismo. Aos poucos a sua actividade digamos que se foi abandalhando. A táctica implementada pelos interessados no fenómeno foi inteligente e simples. Dispensaram-se os jornalistas com mais idade, maior experiência, mais exigentes, reivindicativos e rigorosos na sua função, a alguns acenaram-lhes com cargos de diversos tipos com alguma importância e razoavelmente bem remunerados ou, pura e simplesmente reformaram-nos facultando-lhes uma ou outra regalia úteis ao seu presente e futuro, em suma, acomodaram a sua grande maioria. Os novos proprietários dos órgãos de informação, para assegurar os objectivos traçados pelas suas empresas de comunicação social, abriram as portas aos jovens saídos recentemente das universidades mas, não só, também a alguns amigos muitos deles sem qualquer tipo de preparação e formação, combinaram com eles contratos precários ou descartáveis ficando assim estes sujeitos a todo o tipo de controlo dos “bosses”.



Chegados a este ponto, em que o jornalismo já pouco investiga interesses instalados com a independência e o rigor necessários, quase que seria de repensar se ele próprio não deveria começar a ser investigado e denunciado em termos de comportamento. Felizmente que há alguém que o vai fazendo através das novas tecnologias que por exemplo a internet vai possibilitando ou, mesmo através da literatura sem que no entanto estes consigam chegar ao grande público.



Os resultados da degradação estão à vista. Apesar da grande variedade de órgãos de comunicação social parece que todos caminham em sentido único, conquista de audiências a todo custo, receitas publicitárias, fomento de tráfico de influências, manipulação e mais grave ainda, desprezando já as regras mais básicas de uma democracia pluralista. Em alturas de crise económica mais se notam os seus propósitos e interesses particulares. Os “cães de guarda” do “mainstream” estão ferozmente à solta e são demasiado perigosos.


Os tempos actuais deveriam-nos fazer repensar o assunto, a bem do público, da democracia, do futuro e do desenvolvimento. Um jornalismo de referência precisaria de rigor e de grande poder financeiro para conseguir exercer a sua verdadeira função, sujeito a uma entidade abrangente e supra independente dos poderes económicos e políticos. Utopia? Talvez mas, ela nunca nos foi prejudicial ao contrário do que vamos lendo, ouvindo e vendo.

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