domingo, março 29, 2009

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

O chamado Jornal Nacional de Sexta, JN6, da TVI apresentado por Manuela Moura Guedes, tem sido ultimamente, ele próprio, a notícia. É criticado por alguns elementos do governo, incluindo José Sócrates e pelos vistos por alguns telespectadores que apresentaram queixa levando a Entidade Reguladora para a Comunicação Social a meditar sobre o fenómeno para uma eventual tomada de posição com respeito à isenção e deontologia jornalística deste JN6 de Manuela Moura Guedes. Não há aqui nenhuma anormalidade. Existem vários jornais de televisão, queixas de telespectadores e há uma entidade reguladora para observar e fazer cumprir regras estabelecidas. Já não é muito normal o próprio estilo de informação que o JN6 de MMG tem apresentado.
À partida, quando o comum do telespectador se predispõe a ver um telejornal, quer através dele, saber o que se passa no país e no mundo, quer ser informado. Em principio este é o fundamento que deve nortear a informação. Puro engano. Com a concorrência eles tornaram-se num amontoado de peças e directos de interesse superficial e duvidoso e sempre na procura de um sensacionalismo com vista à conquista de emoções e consequentemente de elevados "shares". A informação em Portugal em termos gerais é fraca, ponto final. Quanto menos culta, menos exigente e mais mal informada for a população mais grave se torna a situação. As redacções na sua maioria são compostas por gente com pouca formação a todos os níveis, admitidos sem concurso público ou critérios de exigência e sem um curriculum que se preste à importância da função. A sua admissão nas empresas de comunicação muitas das vezes faz-se “pela porta do cavalo”. A maioria são jovens e com vínculos bastantes precários logo, sujeitos aos ditames dos seus chefes, já estes também a exercer funções para as quais não estão minimamente vocacionados e sem terem sequer feito uma carreira profissional merecedora de tal distinção. As redacções estão tão esvaziadas de gente experiente que são já os próprios jovens que dirigem outros jovens. Os resultados chegam a ser catastróficos. Os jornalistas de qualquer órgão de informação, quer queiramos quer não, estão sempre dependentes de um poder quase sempre interesseiro, manipulador e obscuro, seja ele de Estado ou privado. Com o desenrolar dos tempos a sua independência foi-se desvanecendo aos poucos.
Os telejornais não são as noticias, no nosso caso são o que nos dizem o José Rodrigues dos Santos, o José Alberto Carvalho, o Rodrigues Guedes de Carvalho, o Mário Crespo a Manuela Moura Guedes etc. São as vedetas e por isso elas até são bastante bem pagas. O JN6 da MMG na TVI é o mais paradigmático. Não há peça que não mereça o seu comentário, a sua observação, a sua expressão ou esgar, como se fosse importante conhecermos a posição e a atitude da pivot daquele jornal, como se ela fosse uma "expert" ou uma sumidade em qualquer matéria. Há quem aprecie e goste assim e pelos vistos até são bastantes. O povo acha que aquela pessoa que ali lhe relata os acontecimentos do mundo, se lá está, certamente é porque sabe e tem muitos conhecimentos na matéria. Os senhores da televisão são muito entendedores, pensam. Coitado do povo com a sua inocente ignorância. Não imagina sequer que a magia da televisão o ilude e o engana assim como também consegue, vá-se lá saber porquê, seduzir alguns elementos da classe letrada e intelectual, gente que escreve nos jornais e até dá aulas, inclusive de jornalismo, nas universidades portuguesas. O próprio jornal “O Público” dá espaço a um crítico de televisão, acérrimo defensor da pluralidade de órgãos de comunicação social desde que apenas detidos por entidades privadas que na sua opinião, são o único garante de uma informação livre. Não nos espanta que assim pense e só vê dignas virtudes nas sociedades neo-liberais e nos méritos da iniciativa privada. São exactamente os mesmos que se queixam da não intervenção da entidade reguladora na comunicação social detida pelo Estado mas que se põem em bicos de pés e aos gritos quando os responsáveis pela regulação de toda a comunicação social portuguesa opinam e chamam a atenção para eventuais excessos cometidos pelas empresas privadas de comunicação. Pacheco Pereira e o crítico de “O Público” Eduardo Cintra Torres são os líderes de tal corrente. Não podiam, cada um á sua maneira, faltar no momento em que a TVI e o JN6 de MMG eram alvo de crítica por parte da ERC baseada em queixas apresentadas por alguma opinião pública.
Na última edição do JN6 de MMG na TVI, na emissão de uma promoção a uma notícia, aparecia a figura de uma mulher com a cara completamente desfigurada e totalmente cega motivados pelo arremesso por parte do marido de uma qualquer substância ácida. A promoção referia que as autoridades judiciais do país onde aconteceu tal drama, tinham condenado agora o marido daquela mulher a ser alvo da mesma atrocidade. À saída da imagem de promoção a esta notícia, lá estava no JN6 a pivot Manuela Moura Guedes, desta vez não comentando a decisão mas, aprovando a ideia pelo modo como exibiu o seu trejeito facial. MMG julgou e condenou tal como julgaria e condenaria a justiça popular. MMG quer ser tão popular como são os populares mesmo que estes sejam tão animalescos, selvagens e primitivos. O jornalismo está a chegar a este ponto e afinal há quem o aprove tal como fez na sua crítica televisiva semanal Eduardo Cintra Torres. A sua aversão à ERC e a sua defesa incondicional da iniciativa privada e da tal sociedade neo-liberal, pelos vistos também o cegaram. Não só a ele, infelizmente.

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