sábado, maio 02, 2009

PENA NOSSA

A edição do dia 1 de Maio do jornal “O Público” brinda-nos com uma entrevista ao escritor José Luandino Vieira. Na mesma estão apenas retratados os anos de cativeiro do militante angolano na prisão do Tarrafal em Cabo Verde. Em toda a entrevista nunca Luandino Vieira demonstrou qualquer rancor aos responsáveis e colaboradores do regime e muito menos aos guardas prisionais e directores daquela prisão ícone dos tempos fascistas. Luandino está acima dos comportamentos racionais do comum dos cidadãos e sabe que a história dos tempos, mais tarde ou mais cedo, é implacável na discrição e na condenação dos factos exercidos por aqueles que fazem parte da peste humana.
O comportamento de Luandino Vieira faz-nos recordar Nelson Mandela vitima também de um regime deplorável, tirano, racista e preconceituoso. Ambos cumpriram longas e duras penas de prisão, cada um deles teve mais tarde a oportunidade de exercer o poder pelo tempo que quisesse, ambos não tiveram sede de vingança apesar das represálias a que foram sujeitos durante tantos anos, e cada um deles, apesar de poderem dar por muito mais tempo o seu contributo ao desenvolvimento das suas comunidades, optaram por dar o lugar aos outros por acharem que cada um de nós tem o seu tempo e que o poder é efémero. Luandino Vieira e Nelson Mandela são exemplos de humildade raramente vistos. Gente desta estirpe deveria antes estar sujeita à pena perpétua de governar as nossas sociedades. Talvez o mundo estivesse melhor.

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