domingo, junho 14, 2009

O FIM DO SÓCRETISMO?

O PS de José Sócrates perdeu as eleições europeias não por causa dos méritos que possa ter o candidato do PSD Paulo Rangel, de sabe-se lá o quê que tenha Manuela Ferreira Leite ou da falta de jeito do seu próprio candidato Vital Moreira. Nem as duvidas no caso Freeport justificam tamanha derrota.
O PS perdeu porque foi surdo, prepotente, economicamente neoliberal e de uma maneira geral incompetente.
O PS perdeu porque apoiou um governo que deliberou contra os interesses da generalidade das pessoas como nas reformas da Segurança Social, porque aprovou um código do trabalho nefasto para os trabalhadores a que nenhum governo de direita tinha chegado a tanto, porque incentivou a precariedade no trabalho sobretudo junto dos jovens, porque desprezou as grandes manifestações de rua, porque governou à direita quanto fora eleito por gente de esquerda que quis romper com o passado dos governos de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes. O PS de Sócrates perdeu porque foi prepotente em relação aos mais fracos e desprotegidos que são a maioria e muito submisso perante os mais fortes. Perderam porque se preocuparam mais com os negócios do que com as pessoas. O PS perdeu porque pensava que apenas à custa do marketing do seu líder se perpetuava no poder e perdeu também graças aos seus ministros incompetentes. Ajudaram à queda, o ministro da Economia Manuel Pinho que abriu a boca vezes sem conta para dizer asneiras, quando a crise internacional ainda não estava sequer no seu auge teve o desplante de afirmar que, o pior já tinha passado e que recomeçara a recuperação económica, isto contra todas as expectativas e a realidade que se nos deparava. Ajudou o ministro Mário Lino das Obras Públicas com a grande trapalhada em relação ao novo aeroporto, ficou famosa a sua frase, em Alcochete “jamais” ou o “deserto” a sul do Tejo. Ajudou o ministro do Trabalho e da Segurança Social Vieira da Silva que muito passivamente sem qualquer tipo de acção não garantiu nem trabalho nem segurança social. E que dizer então em relação ao ministro da Justiça Alberto Costa senão que foi o ministro do caos? Não está isento de culpas também o ministro mais exposto do governo, o das Finanças, Teixeira dos Santos, que sempre procurou defender o indefensável, ginasticou conforme as conveniências em relação aos impostos castigando os contribuintes, manteve à frente da supervisão do Banco de Portugal o governador Vítor Constâncio com as suas “distracções” gravosas para a economia portuguesa em relação ao que se passou na banca e em concreto nos casos do BPN e BPP. Foi quase tudo muito mau. De que estava à espera esta gente na altura do julgamento?
Que caminhos sobram a José Sócrates e ao seu partido a partir de agora? O primeiro-ministro está numa encruzilhada da qual muito dificilmente se desenvencilhará. A esquerda que ele tanto desiludiu jamais confiará na sua política e nas suas intenções, é um caminho que lhe está definitivamente vedado por muito que ele tente conquistar. Em relação ao centro direita para quem governou durante todo este tempo, as perspectivas não são também animadoras. Foi uma franja, incluindo nela a maioria da classe empresarial, que apoiou interesseiramente e estrategicamente Sócrates enquanto estiveram órfãos, desorganizados e perdidos relativamente à sua “máquina” política tradicional. Quando sentirem que têm a “casa” definitivamente arrumada jamais quererão saber de Sócrates líder de um partido que carrega sempre consigo a palavra que lhes foi sempre maldita, socialista. Sócrates entrou em agonia. Poderá eventualmente ainda salvar-se o Partido Socialista, far-lhe-á talvez bem passar de novo para o “banco dos suplentes”, esquecer Sócrates, renovar-se em termos de militância, reorganizar-se, virar à esquerda e levantar de novo a bandeira do socialismo e da justiça já que a direita e os defensores da exploração estarão sempre minimamente representados e protegidos. Ao Partido Socialista só lhe resta ser verdadeiramente de esquerda caso contrário entrará igualmente em agonia profunda.

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