terça-feira, fevereiro 01, 2011

O EGIPTO É JÁ AQUI

Do que se está à espera quando a raiva aumenta em consequência da exploração, da miséria, da fome e da falta de democracia a que se submete um qualquer povo do planeta? Da revolta em massa com mais ou menos sangue. É só uma questão de tempo, mesmo debaixo das ditaduras mais férreas ou dos regimes mais opressivos e injustos.

As lutas pelos direitos mais elementares das sociedades pareciam episódios do século passado. As nomenclaturas actuais querem-nos fazer crer nesse facto, que os problemas actuais da sociedade se resumem aos actos terroristas isolados de grupos religiosos fanáticos, à organização do Estado e dos mercados financeiros. Felizmente, as populações do Egipto e da Tunísia vieram demonstrar afinal que, independentemente do Deus em que se acredita, a justiça é o valor mais sagrado do mundo pela qual todos anseiam e que por ela se deve lutar até à sua possível e real conquista. Opressores e oprimidos serão eternos mas também todas as batalhas travadas entre ambos, quer elas aconteçam na América, em África, na Ásia ou na Europa, não há volta a dar-lhe. Não haverá descanso enquanto as tiranias e a exploração subsistirem. Não se trata de conceitos panfletários em desuso ou de filosofia tipo “cassete” caduca. A luta pela conquista do bem-estar é tão simples e natural como nascer e morrer.

O Ocidente e sobretudo a Europa que, foram pioneiros e sempre estiveram na vanguarda dos valores democráticos, estão agora em sobressalto graças aos acontecimentos recentes. Tardam em perceber que só terão descanso e saudável progresso quando a paz e a justiça forem globais. De nada lhes serve a longo prazo jogar cínica e estrategicamente com outros países do globo e os seus caciques locais com o intuito de a partir daí apenas colher avultados dividendos à custa da exploração e miséria de outros povos. Nesta hora de revolta e incertezas, Estados Unidos e a Europa procuram desde já sugerir soluções imediatas para o problema querendo a todo custo salvaguardar os seus altos interesses mesmo que para tal tenham que aliciar novos aliados destinando aos antigos o desprezo e o seu abandono.

O mundo ocidental está preocupado com o que se está a passar no Egipto. No entanto seria bom que, para além da lição que possam receber a partir dali, também pudessem analisar o futuro do seu regime e os seus actuais comportamentos. Pudessem concluir que as convulsões e revoluções que viveram no passado e que alicerçaram os pilares das suas democracias não foram definitivas. Em qualquer momento elas poderão renascer. Bastará que para tal tenham tendência em continuar a desprezar a justiça como o vêm fazendo ultimamente.


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