SEM RUMO
Portugal está sem rumo, Portugal vai com as outras. Entenda-se outras como o conjunto dos países da União Europeia. A Europa abandonou a sua tradição política, a de organização de uma sociedade desenvolvida, democrática e justa, resume-se agora a uma agremiação económica. Quando se fala de economia fala-se de negócios e nestes vence quem é mais forte ou mais rico. Por culpa própria Portugal é fraco e pobre em quase todos os domínios.
A ILUSÃO
Por um bom número de razões foi-nos benéfica a adesão de Portugal à CEE. Estávamos atrasados, recebemos ajudas económicas para nos desenvolvermos e juntámo-nos aos grandes da Europa e à sua experiência em termos de organização. Passámos a fazer parte de uma comunidade forte tanto política como economicamente. Portugal que até aí dificilmente se governava e se desenvolvia achou que graças à nossa aproximação e adesão ao grupo dos mais ricos da Europa nos livraria eternamente da responsabilidade. Ficou a contar eternamente com o ovo no dito da galinha.
A FESTANÇA
Portugal deitou-se a dormir descansadamente e confiante na governação dos seus responsáveis enquanto o mundo global dos negócios, como é seu timbre, não pregou olho e se foi transformando com a grande ajuda de políticas económicas e estruturais sedimentadas por um actor de segundo plano de Hollywood que virou presidente da Grande Potência mundial e pela Dama de Ferro, a primeira ministra britânica Margaret Tatcher. Prestou-se pouca atenção às consequências dos caminhos traçados pelos seguidores daquela gente que viram a partir daí a grande oportunidade para a expansão de negócios não controlados e pouco claros. Entretanto por cá, os nossos governantes entretiveram-se num autêntico regabofe, organizaram feiras e festas, gastaram à vontade, usurparam onde era possível, distribuíram prendas entre si, embebedaram-se na vida fausta ao ponto de desprezarem as suas funções para as quais foram designados. Impunha-se-lhes competência, responsabilidade, capacidade de gestão do bem público, poder de organização qualidades de liderança e sobretudo visão estratégica. Cagaram para tudo isso. Chegados à hora do aperto como não reúnem nenhum daqueles atributos, no meio da grande confusão e sem ideias alternativas, limitam-se a receber ordens da sua hierarquia e no imediato pô-las em prática receosos dos castigos que daí poderão advir caso não se comportem como ditam os poderosos. Perdida a oportunidade do passado agora nem tempo lhes dão para que raciocinem, diga-se também que de pouco lhes valeria tal a sua incompetência, ignorância e promiscuidade. O seu nível é de tal forma tão baixo que na eventualidade de uma segunda oportunidade voltariam a cometer as mesmas atrocidades, não governando mas governando-se como sempre o fizeram.
AS CINTURADAS
Portugal enriqueceu com a sua entrada na Comunidade Europeia, Portugal vai empobrecer com a sua permanência na União Europeia porque a própria Europa também ela está a apodrecer. Os países mais ricos impõem as regras e estas são nefastas para aqueles que são mais pobres. Os tecnocratas da política europeia embrulhados numa cumplicidade com o poder financeiro ordenam o aperto do cinto mesmo àqueles que não têm sequer cinto e pouco têm de cintura. As ordens são de austeridade, cortes em direitos adquiridos, ordenados baixos, aumento de desemprego, medo e mais grave de que tudo, políticas financeiras no intuito de não permitir aos países em maiores dificuldades mais investimentos no sentido do desenvolvimento. As consequências são a recessão e a degradação rumo a mais miséria. Vem agora a depressão porque não é a austeridade que assusta as populações mas é sobretudo a falta de esperança no futuro.
O SUFOCO
Os novos tempos apontam para que a própria União Europeia, mantendo à frente dos seus destinos a actual classe dirigente e as actuais políticas, corre o risco de se desmembrar por completo. Quando a crise é global é tempo do safe-se quem puder. Os países mais ricos não vão querer ajudar e os mais pobres não vão aguentar estar eternamente subjugados, pelo menos aqueles com mais tradições democráticas e revolucionárias. Diz-nos a história que sempre que assim aconteceu foram inevitáveis as convulsões que resultaram em mudanças radicais nos paradigmas. A União Europeia sufoca e não será eterna nos moldes actuais. Historicamente o seu fim está próximo, mais do que muitos “especialistas” possam calcular. É deveras complicado pensar até nas consequências do grande desastre quase certo. Vai certamente ser demasiado duro para não dizer catastrófico para as gerações de agora e para as futuras mais próximas.
O MONOPÓLIO
Há forças poderosas que ditam as regras e estas não são mais do que a asfixia dos mais fracos. Consoante a resistência de cada um, dela dependerá mais ou menos a sua sobrevivência. Na hora do desmembramento, individualmente cada país seguirá o seu caminho. Os que melhor se prepararam mais aptos estarão para enfrentar os desafios do futuro. Do conjunto dos mais fracos seguirão em frente aqueles que mais cedo forem capazes de perceber que o caminho não é único e muito menos este que lhe gritam aos ouvidos e o querem impor. Os fortes da União Europeia não querem distribuir, querem restringir direitos, debitar facturas a qualquer custo para alimentar cliques e sociedades anónimas sedentas sempre de mais e mais independentemente dos seus lucros avultados e ainda limitar os investimentos e consequente progresso dos mais fracos. Quando uma União Europeia que reúne vários países com uma imensidão histórica, é sobretudo mais dirigida pelos ditames de uma instituição bancária como o Banco Central Europeu do que por uma instituição política com obrigações de zelar pela justiça, bem-estar, paz e desenvolvimento, ela deixa de ser uma união social de culturas e povos para passar a existir como grupo de clientes sujeitos a um monopólio. Quanto mais cedo os mais fracos forem capazes de dizer, NÃO, não queremos jogar monopólio, mais hipóteses terão de se salvar da bancarrota e da falência. Sair a tempo pode significar a salvação. A decisão não é fácil, é preciso estratégia, coragem, trabalho, sacrifício e reestruturar-se com vista a rentabilizar todo o seu potencial e riqueza naturais, mobilizar e responsabilizar, investir em formação, justiça e educação e ir aprendendo a viver com aquilo que se tem, apostar no que realmente nos é mais importante e comum à generalidade de todos e não só de alguns.
NEGÓCIOS À PARTE
É preciso que se perceba que muitos países democráticos se desenvolveram sem que forçosamente tivessem que pertencer a uma qualquer união. Têm resistido traçando o seu próprio caminho apesar de igualmente terem que enfrentar a tal globalização económica, a concorrência dos chamados países emergentes, muitos destes sujeitos a fortes ditaduras e nos quais se regista a maior ausência no respeito pelos mais elementares direitos humanos.
O futuro definirá quem melhor e mais cedo sobreviverá ao caos europeu. Serão certamente os mais bem preparados e com melhor poder de organização. São eles próprios que, antecipando as consequências do desastre, serão os primeiros com coragem a romper com o actual estado da situação.
O TITANIC
Perante tão grave cenário que futuro está reservado para Portugal e para os portugueses? O fado de sempre, resignação, obediência e servilismo na esperança de que haverá sempre alguém que nos salvará e tomará conta de nós. Portugal nunca romperá com coisa alguma e em relação à União Europeia ser-lhe-á sempre fiel até ela se desfazer por completo e não haver mais espaço para a esmola. Sobretudo porque Portugal não tem classe dirigente capaz de ser superior. Estamos eternamente condenados a viver com a peste que nos assola. Coitados dos portugueses.